Os jardins mediterrânicos eram pomares tão maravilhosos que os monoteístas tinham-nos como lugares de felicidade eterna e foram os mais antigos do mundo.

Ao todo, são já 7.000 anos de domesticação de plantas, um processo desenvolvido por milhares de jardineiros, uma vez que, na altura, todos jardinavam, incluindo reis e imperadores, em diversos tipos de climas locais.

Isto representou milhares de apuramento de seleção, de hibridação, de estudos que levaram a milhares de cultivares adaptados aos locais, aos gostos, à nossa saúde, aos tipos de utilizações para os quais estavam destinados. Refiro 7.000 anos mais para as vinhas, as figueiras ou as ameixas… Os seus milhares de cultivares de plantas úteis, de frutos perfeitos eram adaptados a todos os tipos de ecossistemas deste clima, pela sua diversidade limitavam as doenças e os insetos.

Tudo isto nós destruímos. O desaparecimento dos frutos tradicionais foi dramaticamente rápido nos últimos 50 anos. Desde há 10 anos que as romãs sofrem um massacre horrível. O mesmo sucedeu com as peras. Estima-se que só ficarão no mundo cerca de oito variedades de romãs. Nas peras, a mais cultivada é a conference, mas o último híbrido europeu tem o nome de P2829. Nas romãs, as wonderful são verdadeiramente maus frutos.

Alimentação saudável

Os climas mediterrânicos são um conjunto de climas com o verão longo e seco. Desde a origem que os povos mediterrânicos construíram jardins apropriados à sua natureza, contemplando o domínio da rega, a construção dos jardins em redor de água e com excelentes drenagens. Com muros protetores dos ventos e terraços contra as chuvas intensas.

É inútil dizer que os atuais jardins secos são absurdos medterrânicos. Um deserto é o contrário de um jardim mediterrânico, um pomar luxuriante. Mesmo os seus frutos. Os antigos selecionaram frutos que se conservam secos ou fermentados, como as uvas, os figos, as romãs, árvores aprumadas nos muros, as ameixas, as maçãs, as peras, as amêndoas, entre outros.

Antes de serem afogados em açúcar refinado destruidores da nossa saúde, de serem encerrados em congeladores energívoros, os frutos dos pomares mediterrânicos eram secos e constituíam uma parte importante da alimentação. Com uma dúzia de árvores uma família alimentava-se saudavelmente.

Por respeito à raridade da água e pelo trabalho que tem um jardim, as plantas decorativas e, como tal, consideradas inúteis eram raras, somente algumas perfumadas. É inútil dizer que os nossos lamentáveis relvados falsos povoados de pilhas de flores industriais são o exato oposto do que eram os jardins mediterrânicos.

Domesticação

Os pomares mediterrânicos expressavam os povos mediterrânicos com a sua incessante curiosidade, o prazer pela comida e sendo grandes viajantes, desde Ulisses. Após o início da domesticação, os mediterrâneos viajaram de barco e com eles levaram as suas plantas e os seus frutos.

A epopeia da oliveira, domesticada há 10 mil anos, no tempo do nomadismo, faz o azeite indispensável para as nossas mesas. Este iluminou casas e cidades, seguindo a rota dos navegadores fenícios, do Médio Oriente à Península Ibérica, até às nossas costas e rios.

Os jardins mediterrânicos são por natureza jardins abertos ao mundo. As grandes descobertas traduzem-se segundo uma revolução hortícola. É inútil dizer que o conceito em voga de jardim de plantas locais não tem nenhum sentido como um jardim mediterrânico onde a mistura das plantas domesticadas é tão velha como a própria domesticação. Tudo isto faz parte do passado.

Criar um jardim mediterrânico tornou-se uma façanha. Evitar plantas industriais, genomas miseráveis únicos reproduzidos ao infinito, frutos de supermercado, belos e insípidos, tornou- se uma luta. Um ato de resistência é suprimir essa questão. Consumir os seus próprios frutos à sombra luminosa das suas árvores, refrescando-se com água de uma lagoa era uma felicidade. A felicidade dos jardins mediterrânicos!

Texto: J.P. Brigand