Quem passa na rua dificilmente se apercebe do enorme terraço que Manuel de Lancastre transformou num original jardim.

Longe dos olhares indiscretos, tão alto quanto o prédio assim o permite, numa das ruas históricas de Lisboa, estende-se um tapete composto por várias espécies vegetais.

Concebido há cerca de um ano, «foi um jardim difícil de construir quer pelo seu comprimento quer pela exígua caixa de terra» para albergar as plantas, explica o proprietário. Daí, a opção por espécies rasteiras para cobrir a enorme extensão que vai da zona de estar ao fundo do terraço.

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Não se trata de um jardim para passear. Aqui, a contemplação é a palavra de ordem. Com uma invejável e extensa vista sobre o Tejo e parte da Baixa Pombalina, o jardim/terraço funciona como prolongamento da sala de estar e é o espaço de eleição do proprietário para refeições ao ar livre, sempre que as condições atmosféricas permitem.

O acesso à zona ajardinada faz-se por três degraus ladeados por dois vasos. Imponentes, duas esfinges do
séc. XVIII adquiridas em França, fazem de guardiãs do terraço. Chegando ao topo das escadas, uma linha recta em pedra atravessa longitudinalmente o espaço, dividindo-o em duas metades distintas.

Do lado direito, o tapete vegetal coberto por plantas rasteiras e rústicas estende-se até ao gradeamento, de pouca altura para não quebrar a vista ao condomínio. A par das condições do terraço que condicionaram a escolha de espécies baixas, esta foi, aliás, uma das preocupações de Manuel de Lancastre. Não obstruir a paisagem, antes desfrutar da vista que a altura permite sobre o rio.

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Santuário de arte

A outra metade do espaço encontra-se protegida por uma parede revestida de azulejo esmaltado em tons de azul, onde ressalta uma gravura da autoria do arquitecto Siza Vieira, criada propositadamente para Manuel de Lancastre, representando um cavalo greco-romano.

Ao longo da parede, oito vasos com oliveiras conferem distinção ao espaço. Ao contrário da zona vizinha, esta não se encontra totalmente ajardinada. Pequenos canteiros rectangulares, quadrados e em forma de ângulo recto formam um labirinto por cima da gravilha verde.

"Aqui a dificuldade foi conseguir os vasos iguais", conta o proprietário ao recordar a odisseia pelos centros de jardinagem em busca de apenas oito vasos com as mesmas dimensões, cor e materiais. Uma tarefa aparentemente simples mas que se veio a revelar mais complicada do que o inicialmente previsto, explica, mostrando algum descontentamento com a capacidade de stocks dos centros de jardinagem. Assunto resolvido e as oliveiras lá se encontram estrategicamente colocadas.

Manuel de Lancastre nutre especial predilecção por parra virgem e como se trata de uma planta que suporta difíceis condições atmosféricas não pensou duas vezes em colocar Parthenocissus tricuspidata no terraço, mesmo ao fundo, em jeito de cortina. A parra virgem é também a rainha de uma pérgola em madeira situada num pequeno terraço ou grande varanda de uma das dependências da casa, onde apesar de ainda jovem já surpreende pelo verde que se há-de transformar em carmesim intenso. Mas nem só de espécies vivem este espaço.

O terraço é também um santuário de obras de arte (uma das paixões do proprietário) e além das esfinges e da gravura de Siza Vieira, o olhar detém-se na lápide funerária romana ou na urna, também romana, para cinzas, peças que coabitam em harmonia com a arte do jardineiro que concebeu este jardim nos céus de Lisboa.

Um espaço que surpreende pela originalidade, quer por se encontrar a uma altura considerável quer pelas espécies escolhidas, tendo em conta as condições climatéricas e de pouca profundidade da caixa de terra, não vocacionado para passear mas para desfrutar.

Ficha técnica

Proprietário: Manuel de Lancastre
Localização: Lisboa

Área: 400 m2
Jardineiros: 1
Este é um jardim privado sem hipótese de visita

Texto e fotos: Luís Melo