O desejo pressupõe paciência, desde o momento em que se manifesta até à sua concretização. Tendemos para um clima de encurtamento ou extinção deste espaço temporal. É lugar comum: a vida é sempre a correr dando cada vez menos espaço para pensar.

Modernamente, queremos tudo já feito, tudo à disposição, de repente, sem questionar ou quantificar da sua origem, de como é feito, do esforço e saber de quem o fez. Queremos, e queremos para imediata satisfação pessoal e, quantas vezes, para satisfação exibicional. Amiúde, este status vem revelando maior debilidade do nosso lado racional e criador.

Concretizando: compramos plantas ou árvores ornamentais espantosamente caras. Comportamo-nos como pais adoptivos ante elas. Pagamos o preço do seu visual e compleição, em vaso gigante a somar ao do transporte, a somar ao do plantio. Em alternativa, caldeando o desejo com algum amor e paciência, podemos dar vida às plantas que queremos eleger como companhia vegetal, através da sementeira.

Refúgio na natureza

Refúgio na natureza

Para tanto, e para muitas delas, basta ter-se um canto da casa iluminado e abrigado, dispor de um pequeno tabuleiro de esferovite que embalou o peixe fresco, e utilizá-lo como maternidade. Aí, é colocado substrato vegetal regularmente compactado e humedecido; as sementes dispõem-se, normalmente, mais ou menos fundas e separadas, consoante o seu tamanho.

Esta cama pode completar-se, com bons resultados quando coberta com manta térmica que lhe dá aconchego, mais regularidade térmica e obsta à forte luminosidade.

Depois, imprimamos pacientemente o nosso querer continuado na sua gestação e vê-la-emos brotar, crescer e dar contrapartidas como, por exemplo, fixar e transformar o tão modernamente badalado e nefasto dióxido de carbono em oxigénio, a respirar por todos. Tanto melhor se, na sua escolha, para sementeira, juntarmos às virtudes ornamental e oxigenadora a componente alimentar.

Não esqueçamos que quando proporcionamos vida, deste modo, a estes seres, eles, quando adultos, bem como os nossos filhos, são também nossos e da sociedade. Os vegetais que semeamos ou plantamos, acompanham, completam e integram a nossa existência.

Também eles, quantas vezes, mitigam ou são bálsamo para os nossos stresses e companhia certa e suave quando mergulhados em solidão. Não obstante, a nossa habitação deve ser, sempre que possível, refúgio na natureza e não refúgio da natureza.

Veja na página seguinte: A curiosidade que o autor deste texto revela

Tem-se vida onde há vida!

Tem-se vida onde há vida!

Nada melhor para atenuar a contínua frigidez e a insanável inércia das quatro paredes da nossa habitação, por mais confortável que se afigure, do que mexermo-nos, criarmos energias e sinergias em espaço amplo e natural. A nossa energia advém, também, de parte da energia gerada nos outros seres vivos que nos estão próximo, desde que com eles interajamos, sejam eles de índole animal ou vegetal.

Finalmente, uma oportuna curiosidade. Relaciono-me com uma família com três filhos. Nela, cada um destes, com tenra idade, foi levado pelos seus pais ao quintal da casa.

Aí lançou sementes de árvores de fruto; árvores e humanos foram nascendo e crescendo, coexistindo harmonicamente. Agora, umas e outros são adultos. No Natal lá em casa, é praxe complementarem a ceia com o especial sabor de boca e de memórias de uma salada dos frutos daquelas (suas) árvores.

Naquela família é mesmo assim: cada membro tem a sua árvore; cada árvore estende os seus braços a todos. É bonito! Todos respeitam todos. Muitos perguntarão: porquê semear agora, com esta idade, certas espécies, se futuramente não puder retirar benefícios da sua maturidade? Pela mesma razão de que quando concebemos um filho poderemos não chegar a ver ou a ter da sua colheita.