O livro é hoje um dos representantes mais importantes da cultura, embora o desenvolvimento de diferentes suportes tecnológicos o tenha levado a perder popularidade. De qualquer forma, é, sem qualquer sombra de dúvida, uma das criações mais relevantes do ser humano quer como forma de conservação de dados e informação quer como veículo de transmissão de cultura e de conhecimentos de ciência, de história, de filosofia e por aí fora...

Os elementos da redação da Saber Viver escolheram livros e autores mais ou menos recentes que tiveram impacto nas suas vidas e partilham-nos agora consigo. Mafalda Alves, assistente de moda deixou-se encantar por «A Viagem do Elefante» de José Saramago. «No dia a dia, dificilmente leio. Só nas férias consigo ter um tempo para mim e para os livros», começa por explicar.

«Por isso, normalmente, prefiro ler algo mais leve para descontrair. Sei que a escrita de Saramago não é propriamente simples, mas este livro é uma boa iniciação. É uma obra que tem um enredo mais ligeiro e uma extensão menor, o que ajuda a que a leitura seja mais rápida. É uma boa aposta para quem, como eu, não tem tempo para ler tantos livros como gostaria, mas não quer passar ao lado de grandes histórias», diz.

Mais recentemente, Mafalda  Alves  descobriu «O Anjo Branco» de José Rodrigues dos Santos. «Não é propriamente uma novidade. Nunca tinha lido nada do jornalista e foi uma agradável surpresa. Foi um livro que li muito rapidamente porque me prendeu do início ao fim pela forma como os acontecimentos se desenrolavam. Gosto deste tipo de livros que não me deixem indiferente, que me fazem querer saltar para dentro da história», desabafa.

Já Pureza Fleming, editora de moda, varia as suas escolhas consoante o seu estado de espírito. «Como as férias de verão são a altura em que mais devoro livros, o ideal são sequelas», confessa. A última que leu foi «Os Pilares da Terra» de Ken Follet. A sua grande (re)descoberta literária foi «A Insustentável Leveza do Ser» de Milan Kundera. «Reli no verão passado [2013] com outros olhos, com outra idade e com outra maturidade e foi um balde de água fria. No bom sentido, é claro», sublinha.

Mais do que qualquer outro género literário, ultimamente, são os policiais que conquistam Filipa Basílio da Silva, estagiária da redacção, que recomenda vivamente o livro «The Calling - A John Luther Novel», de Neil Cross, que começou e acabou de ler num daqueles dias de verão em que o sol teima em espreitar. Londres, uma cidade que adora, é o pano de fundo da história.

«Talvez por isso, o ritmo seja intenso e a narrativa inebrie de tal forma que ficamos tão obcecados em resolver o crime no centro da trama como Luther, o protagonista. O enredo acompanha o detetive John Luther na investigação que destruiu as suas relações pessoais, profi ssionais e o deixou à beira da loucura, como o conhecemos no primeiro episódio da série britânica Luther», explica Filipa Basílio da Silva.

Mais recentemente, mas seguindo o mesmo género, embora com uma componente histórica, descobriu o livro «A Criança nº 44», de Tom Rob Smith. «Gostei particularmente da complexidade da intriga que decorre em 1953, no fim da era estalinista, cuja cruel realidade social o autor vai apresentando através de um agente da polícia secreta, Leo Demidov», justifica.

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Outros livros que merecem ser lidos

A editora de cultura da Saber Viver, Rita Caetano, elege «A Trilogia do Mal» de Ricardo Menéndez Salmóm, numa análise do mal em diferentes vertentes. No primeiro livro, «A Ofensa», o autor leva-nos até à II Guerra Mundial e às atrocidades nazis. No segundo, «Derrocada», mostra-nos que a violência pode ser gratuita.

«Por mais que isso possa ser chocante e inesperado, mexe com os nossos medos», desabafa a jornalista. No terceiro, «O Revisor», Menéndez Salmón critica ferozmente a atitude do governo espanhol no dia 11 de março de 2004, quando Madrid foi alvo de um atentado terrorista da Al-Qaeda que as autoridades quiseram abafar.

«Em todos eles encontrei uma escrita fluida que me levou a querer saber sempre mais e a ter dificuldade em largar os livros antes de os terminar», refere. Mais recentemente, descobriu «Rosa Candida» da autora islandesa Aour Ava Ólafsdóttir. Escolheu-o porque, desde que leu «A Desumanização» de Valter Hugo Mãe, ficou com mais vontade de conhecer a Islândia. «E isso levou-me a ler esta autora islandesa», confessa.

«Apesar de a maioria da narrativa ser ambientada fora da Islândia, há descrições no início que nos remetem para aquele país. Depois, a história é muito empática e senti com facilidade uma identificação com o narrador, que é também a personagem principal. A relação com a natureza parece mais forte do que a que existe entre os seres humanos e mais uma vez ligo isso à Islândia e àquela natureza grandiosa que a caracteriza», refere.

Madalena Alçada Baptista, editora de beleza, remete-nos para «­As Três Sereias» de Irving Wallace. «É um romance grande, mas que se lê rapidamente porque a história é muito envolvente. Apesar de não ser recente, retrata um homem igual ao dos dias de hoje. Um grupo de sociólogos americanos vai para uma ilha para estudar os costumes dos seus habitantes e depara-se com dilemas que põem em causa os padrões familiares e sexuais da sociedade ocidental», conta.

«O romance passa-se numa ilha da polinésia francesa. Ler o livro em ambiente de descanso e férias, mesmo que seja na Costa da Caparica, faz com que os cenários idílicos retratados provoquem menos sensações de inveja ou de frustração», afirma ainda. Embora a sua preferência não recaia sobre obras recentes, «As Loucuras de Brooklyn» de Paul Auster é uma exceção.

«Adoro a forma como o autor escreve e caracteriza personagens e lugares. É muito real e identifico-me imenso com a forma como vê a vida. É um livro que conta a história da relação entre Nathan e o sobrinho Tom, e uns quantos episódios caricatos deste bairro de Nova Iorque».

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A moda dos policiais suecos

Os thrillers escandinavos estão na moda. Helena Ales Pereira, ex-chefe de redação da Saber Viver,  aponta a sua preferência para os livros da sueca Camila Läckberg, sobretudo a quadrologia «A Princesa do Gelo», «Gritos do Passado», «Teia de Cinzas» e «Ave de Mau Agoiro». «Os policiais suecos são muito sórdidos, muito complexos», considera.

«É o tipo de literatura que reflete muito o nível social daquele país e é engraçado descobrir os seus hábitos sociais e culturais. Depois, as descrições dos crimes estão, a nível literário, muito bem feitas. Como o clima, e mesmo o tempo, relativamente a horas do dia, é muito diferente do nosso é interessante ver como eles afetam as personagens e as histórias», acrescenta ainda.

­Foi, no entanto, a vencedora do Prémio Leya em 2014 que surpreendeu Helena Ales Pereira. «Uma Outra Voz» de Gabriela Ruivo Trindade é escrito a cinco vozes. «Conta-nos a história de Portugal, desde a instauração da República até ao 25 de Abril, mas de uma forma muito intimista, muito pessoal, até porque o livro é inspirado em factos reais e na vida de um tio-avô da avó da autora», justifica.

«A história central, sobre João José Mariano Serrão, passa-se quase sempre em Estremoz, Alentejo, exceto na parte do 25 de Abril, que acontece em Lisboa e que também teve por base um episódio da história de família da autora», afirma também a antiga coordenadora editorial da revista. Para a jornalista, a escrita de Gabriela Ruivo Trindade lembra muito a literatura sul-americana.

«As personagens são muito fortes, muito bem construídas, sobretudo as femininas. Cada voz é escrita como se fosse um livro independente e, por isso, pode ser lida sem encadeamento», recomenda Helena Ales Pereira. O livro inclui ainda uma árvore genealógica e fotografias originais do homem que inspirou a história, durante a sua viagem a Angola.