O jardim privado da Quinta da Marinha com 1.300 metros quadrados que que aqui lhe apresentamos foi projetado pelo arquiteto paisagista Luís Paulo Ribeiro, do atelier Topiaris, que explica os princípios da sua conceção. O projeto foi suportado por princípios de composição de arquitetura paisagista, destacando-se a criação de condições confortáveis à permanência no exterior e o pleno aproveitamento das potencialidades que o terreno apresentava para criação de um jardim que fizesse parte de toda a estrutura da casa e da vida desta família.

O projeto inspira-se nos princípios de construção e evolução da paisagem cultural, onde as clareiras permitem o aumento da produção de biomassa (maior desenvolvimento da vegetação) e a criação de programas cenográficos suportados pelos espaços abertos e enquadrados por orlas de arbustos e árvores, agora recorrendo a vegetação diversificada e de caráter ornamental. Esta estrutura espacial cria condições favoráveis ao desenvolvimento da vegetação, o que se reflete na qualidade dos relvados.

Reflete-se também no desenvolvimento dos revestimentos herbáceos, otimizando simultaneamente as rotinas e operações de manutenção. O jardim encontra-se envolvido e enquadrado por uma orla continua de vegetação arbórea, arbustiva e herbácea a qual se impõe, sem dúvida, como o elemento estruturante de todo o espaço. A composição botânica tomou em conta as características geométricas e microclimáticas do terreno, definindo novas linhas de desenho que determinam a forma final do jardim.

A vegetação apresenta uma grande diversidade de espécies (cerca de 130 espécies botânicas) devidamente adaptadas às condições do terreno, promovendo cenários diversificados no espaço e no tempo, indo ao encontro das expectativas enunciadas pelos proprietários. Foram utilizadas algumas da regras de composição paisagística herdadas da cenografia e da pintura, tais como o uso de espécies com formas e cores mais intensas e exóticas nos primeiros planos visuais, e de formas e cores mais suaves nos últimos, o que permitiu acentuar a profundidade das principais vistas.

Orlas de vegetação e caminhos

A orla contínua de vegetação implementada favoreceu a integração do jardim na paisagem envolvente, garantindo por outro lado as condições de privacidade necessárias relativamente aos espaços exteriores circundantes. Por outro lado, absorve situações de menor dimensão do terreno e com maior ensombramento (nomeadamente os espaços mais estreitos entre o limite do lote e casa) através do uso de espécies próprias, como é o caso de fetos arbóreos, acer japonês, gardénias, aspidistras e azáleas.

Essa aposta permitiu criar um cenário muito sereno que enquadra as vistas a partir do escritório da casa. A alternância criada entre espaços abertos (relvados) e zonas mais fechadas (orlas de vegetação diversificada) permitiu a criação de planos visuais muito diversificados quando observados das zonas sociais da casa. Aqui, a vegetação de formas, texturas e cores mais intensas conferem maior importância aos primeiros planos visuais, enquanto que os planos contínuos dos relvados são enquadrada por vegetação onde gradualmente vão adquirindo mais importância as cores suaves e as formas menos exóticas.

A existência de floração diversificada e escalonada constituiu umas das premissas enunciadas pelos proprietários. O caminho em lajes de betão pré-fabricado possibilita uma fruição adicional do jardim, tirando partido da estruturação espacial definida pela composição adotada. Ao longo deste percurso descobrem-se novas vistas, com a casa em pano de fundo.

Obras de arte no jardim

Em vários pontos do jardim foram colocadas obras de arte da coleção privada da família. Esculturas da autoria de José Cutileiro, Volker Schnüttgen, e Georg Scheele convivem tranquilamente, enquadradas por maciços de arbustos. Uma peça do artista Tim Madeira com expressão e cores intensas e de acentuado desenvolvimento vertical solta-se da vegetação, constituindo um ponto notável deste jardim.

A iluminação projetada permite aumentar o período de fruição do jardim, criando novos e inesperados cenários paisagísticos noturnos. Um jardim nunca é uma obra finalizada. Num momento inicial, logo após a sua construção, são os revestimentos herbáceos que se destacam como mais interessantes, mas é com o desenvolvimento dos estratos arbustivos e arbóreos que o jardim começa a evidenciar a sua estrutura e a permitir a sua plena fruição, tal como foi projetado.

Neste jardim, o processo de obra foi executado com elevada capacidade técnica, permitindo e determinando a criação de condições de partida favoráveis a um desenvolvimento adequado da vegetação. Por outro lado, a manutenção tem sido conduzida com elevada mestria e sensibilidade pelo jardineiro responsável, sendo de evidenciar o empenhamento e constante acompanhamento por parte dos proprietários.

Texto: Luís Paulo Ribeiro (arquiteto paisagista)