Embora por vezes seja difícil de acreditar, nós somos criaturas de luz. Como foi explicado em "Aha! Reflections on the Meaning of Everything", somos uma espécie fototrópica:Da luz nós viemos, para a luz nós vamos. Entretanto somos famintos de luz e sensíveis à luz. Não conseguimos viver sem luz, e, no entanto, fugimos da luz em demasia - tanto física como psicologicamente. Porém, vendo em condições óptimas, a iluminação é uma possibilidade muito real para nós indivíduos e, com o tempo necessário, para a nossa espécie como um todo.(1)

Perante o colapso iminente da biosfera, a questão é se iremos ter tempo suficiente. A nossa escuridão interna - ignorância espiritual, egoísmo e indiferença - criou uma crise que agora ameaça o futuro da nossa espécie e toda a vida na Terra, e isso, portanto, poderá deixar o potencial espiritual da humanidade por realizar.

Yoga Verde apela ao impulso fototrópico da nossa espécie e à capacidade de fazer uma urgente inversão-de-marcha que sozinha pode evitar o cataclismo que muitos biólogos e ambientalistas prevêem. Baseia-se no cultivo de sattva (o aspecto luminoso) e valores, atitudes, pensamentos, sentimentos e acções positivas associadas a esta qualidade.

Yoga Verde é Yoga que incorpora atenção ambiental e activismo na sua orientação espiritual, especialmente no nosso tempo de crise global. Defende uma mente sattívica e um mundo sattívico.

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Em eras passadas, o Yoga era geralmente associado a um ideal de abandono efectivo do mundo. Muitos yogins e yoginis (praticantes femininas de Yoga) deixavam as suas casas e as suas famílias em busca de solitude nas florestas e nas montanhas. Procuravam uma caverna adequada ou a sombra de uma árvore para perseguirem o caminho contemplativo e viverem o resto das suas vidas afastados dos restantes humanos.

Foram os sábios das primeiras Upanishads que introduziram o inovador ensinamento de "sacrifício interno" junto com a "renúncia interna". Em contraste, o Brahmanismo predominante, a tradição antiga do sacerdotismo de elite, favorecia todo o tipo de sacrifícios externos como a forma ideal de ganhar a graça de uma ou outra divindade, como Shiva, Vishnu ou Kali.

Os grandes professores das Upanishads ensinaram que o que realmente importava no caminho espiritual era cultivar a disciplina do sacrifício próprio. Isto significava abandonar o "reflexo do ego" e internamente renunciar a todos os apegos ao mundo e à sociedade, assim como ao corpo e à mente.

Esta nova orientação filosófica é expressa de uma bela forma na Bhagavad-Gita, que é tradicionalmente referida como sendo a "nata" das Upanishads. Supostamente composto no século V AC, este texto Sânscrito de 700 estrofes proclama o ensinamento integrativo que o processo yoguico pode ser utilizado em qualquer lugar. Não necessita de uma caverna remota ou de uma floresta densa para o seu sucesso.

Pelo contrário, Krishna o perito iluminado, a quem é acreditado este ensinamento, refere que este tipo de prática extrema não conduz à paz interior, quanto mais à iluminação. Nas suas próprias palavras:

Não se goza a acção transcendente(2) abstendo-se de agir, nem se aproxima a perfeição apenas pela renúncia.

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Pelo que, nem por um momento pode alguém existir sem realizar acções. Todos são inconscientemente feitos para agir pelas qualidades cósmicas.(3)

Alguém que reprima os órgãos de acção(4) mas que se senta recordando com a mente os objectos dos sentidos é chamado de hipócrita iludido.

Mais excelso que isso é alguém que, controlando os sentidos com a mente, embarca desapegado no Yoga da Acção com os órgãos da acção.

Deverás realizar todas as acções designadas, pois a acção é superior à inacção; nem sequer os processos do teu corpo podem ser realizados pela inacção.

Este mundo obriga à acção, excepto quando esta acção é sacrifício. Com essa intenção, realiza acções livres de apego.(5)

Apenas a acção auto-transcendente é sacrificial, isto é, oferenda abnegada, que não contém elementos de apego. Porque não envolve o ego, também não causa sofrimento que surge com o ego. Em linguagem yoguica, a acção auto-transcendente não tem consequências kármicas.

Então, é muito importante saber que agir abnegadamente não é o único critério em Karma-Yoga. Para uma actividade ser auto-transcendente tem de ser também o tipo certo de acção, isto é, tem de ser moralmente sã e apropriada.

Caso contrário, poder-se-ia argumentar que um maníaco homicida que mata pessoas de modo a "libertá-las" do seu aparente sofrimento se qualificaria como praticante de Karma-Yoga. Aos seus olhos, ele estaria a prestar-lhes um serviço abnegado. Aos olhos do mundo, porém as suas acções seriam absurdas e moralmente repreensíveis. Claro que, a sua presumível abnegação seria pouco mais que a sua grandiosa ilusão provinda de um egotismo fora de controle.

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Actividade que é moralmente sã, no entanto, não é inevitavelmente idêntica com a moralidade consensual. Esta última não é sempre sã ou válida. Isto pode ser prontamente visto quando consideramos as modas mutantes nos costumes sexuais. Concretamente falando, a separação da Igreja e do Estado e o advento do secularismo levaram à propagação do relativismo moral que hoje presenciamos, que é a epítome do popular dizer hedonista "se sabe bem, fá-lo".

O melhor guia em matérias morais não é nenhum catequismo pré-fabricado sobre ética mas a própria sabedoria. E sabedoria, como indicado previamente, floresce através do cultivo da qualidade sattva na nossa mente, comportamento e ambiente.

Na presente era, a acção sadia tem de incluir activismo social e ambiental moralmente sadio. O que isto significa será tornado claro nas próximas páginas. A Bhagavad-Gita, que Mahatma Gandhi chamou de "a mãe universal,"(6) é fundamental ao espírito de Yoga Verde. Iremos referir-mo-nos a ele e ao seu Yoga da Acção em muito mais ocasiões.

Yoga é essencialmente um ensinamento de libertação. Isto significa que o seu objectivo é libertar a pessoa da ilusão de ser uma entidade distinta e encapsulada separada de todas as outras. No decorrer da sua longa história, o Yoga adoptou ideias filosóficas diversas, até mesmo contrastantes. Qualquer que seja o seu fortalecimento metafísico, o Yoga afirma que a personalidade-ego que nós normalmente animamos é ilusória, ou ficcional.

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O quê, perguntará você (se para si esta ideia for novidade), "eu não sou real?" Sim e não. Contrariamente à nossa crença mais inveterada, nós não somos um discreto e particular corpo-mente. Invés disso, a nossa verdadeira essência é a verdadeira essência de todos e de tudo. E o que é isso? É o todo da realidade; é o Todo. Uma outra forma de falar sobre o Todo, que é no fundo real, equivale a dizer que tudo está inter-relacionado e inter-dependente. Este é o conceito central da tradição do Yoga.

Libertação, que é também frequentemente referida como a condição para a iluminação, é o momento em que nós paramos de nos identificar com o corpo-mente histórico e, ao invés disso, identificamo-nos com o próprio Todo. Isto não é meramente uma crença ou um pensamento. Crenças podem mudar e os pensamento realmente mudam. Mais exactamente, libertação é uma realização que diz respeito a todo o nosso ser. Se for limitada apenas à nossa cabeça ou mente, não é libertação real.

Por vezes, é feita uma distinção entre libertação última e iluminação. Neste caso, a primeira é considerada como um estado transcendental de perfeita liberdade, que está para além do espaço-tempo e personificação, onde a segunda é vista como liberdade interior enquanto encarnado. Em rigor, porém, a liberdade é inqualificável; portanto podemos usar os dois conceito de forma equivalente.

por: Green Yoga - Georg & Brenda Feuerstei