Na Páscoa, os cristãos celebram a ressurreição de Jesus, o Cristo, que de acordo com o Novo Testamento ocorreu três dias após a sua crucificação. Muito mais antiga, é a Páscoa judaica - Pessach - que comemora o fim da escravatura e a conquista da liberdade pelos hebreus no Egito, que aconteceu na Primavera. Ambas as festas são da maior importância para estas religiões.

A Páscoa que conhecemos e os símbolos que lhe associamos têm, contudo, fortes raízes nos festivais que os antigos povos germânicos e do Norte da Europa faziam para celebrar a chegada da Primavera. Ostara ou Eostre, é a deusa teutónica da Primavera, geralmente representada envolta em flores e acompanhada de coelhos e ovos. É a deusa da renovação, da alegria e do regresso da fertilidade à natureza, que é marcada por este equinócio.

Algumas línguas germânicas ainda evidenciam a ligação desta celebração à deusa Ostara: em inglês, Páscoa diz-se “Easter”, em alemão “Ostern”. A própria palavra Ostara significa algo como “luz crescente” ou “luz que se eleva”, sendo por isso conhecida como “deusa do amanhecer” e “deusa da Aurora”. A sua ligação ao lugar de onde vem a luz é tal que o Este é “Osten”, em alemão, e “East”, em inglês.

Durante estas celebrações da Primavera ofereciam-se ovos de galinha pintados de diversas cores a familiares e amigos, para lhes desejar bênçãos e prosperidade na nova estação. Por vezes também se enterravam ovos nas terras de cultivo, para que dessem boas colheitas. O costume de oferecer ovos pintados é muito antigo, e apesar de ocorrer em diferentes datas, sabe-se que já vinha da Grécia, do Egipto e de mais a Oriente.

O cristianismo integrou a tradição da oferta de ovos, que se tornou um símbolo da Ressurreição - os ovos eram benzidos e depois ofertados. Mais tarde, tornou-se hábito esvaziar os ovos do seu conteúdo e substituí-lo por uma surpresa. Por último, surgiram os ovos de chocolate.

Os coelhos eram também um símbolo da deusa da Primavera, Ostara, porque era nesta altura que a sua reprodução era mais intensa, e porque este pequeno animal tem uma impressionante capacidade reprodutiva. A expressão popular “multiplicam-se que nem coelhos” é esclarecedora!

Estas tradições e símbolos sobreviveram até hoje, ao serem assimiladas por sucessivas religiões e culturas. Vemos assim que o nosso imaginário da Páscoa tem raízes muito mais antigas e significados muito mais profundos do que imaginamos. Independentemente das nossas crenças pessoais, celebrar a Páscoa e/ou o Equinócio da Primavera com consciência é bem mais interessante.

Vera Vieira da Silva

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