A biodanza surgiu por acaso na vida de Maria Correia. Uma festa de aniversário de um amigo era precisamente uma aula aberta de biodanza. “Percebi que, com a desculpa da música se chegava à prática de exercícios que acabam por ajudar-nos. Esses exercícios, praticados de forma aberta e livre (não têm que fazer-se se não se quiser) tiram-nos de zonas de conforto dentro de um local protegido que é o espaço da bio acabando por nos expor”, acredita.

“Ao fazermos isso lidamos com as nossas maiores dificuldades, connosco próprios e em interação com os outros”, sublinha. Nestes tempos conturbados que a sociedade moderna atravessa, a biodanza ou dança da vida, tem encontrado cada vez mais adeptos.

A dança da vida é um sistema orientado para o desenvolvimento dos aspetos saudáveis das pessoas, estimulando a alegria, o movimento, o vínculo afetivo, o erotismo e a expressão criativa e consiste fundamentalmente em induzir vivências através da música, da dança, do canto e do movimento em situações de encontro em grupo.

O que é
Diz o psicólogo chileno Rolando Toro, seu criador na década de 60 do século XX, que “a biodanza é um sistema de integração humana, renovação orgânica, reeducação afetiva e reaprendizagem das funções originárias da vida”. A biodanza assenta no princípio biocêntrico, proposto por Toro. Um paradigma filosófico inspirado nas leis universais que conservam os sistemas vivos e tornam possível a sua evolução. Esta filosofia de desenvolvimento pessoal atua ao nível preventivo e curativo em áreas tão diversas como a educação, a reabilitação, a psiquiatria, a psicossomática, familiar, empresarial, institucional e em comunidades.

A sua prática está indicada a crianças, adolescentes e adultos e possibilita a integração humana (o processo de integração atua mediante estimulação das funções primordiais da conexão com a vida, que permite cada indivíduo integrar-se a si mesmo, à espécie e ao universo) e a renovação orgânica (a ação sobre a auto regulação orgânica, induzida principalmente mediante estados especiais de transe, que ativam processos de renovação celular e regulação global das funções biológicas, diminuindo os fatores de desorganização e stress).

Além disso, permite ainda a reeducação afetiva (a capacidade de estabelecer vínculos com outras pessoas), a reaprendizagem das funções originárias de vida (aprender a viver a partir dos instintos, uma conduta inata, hereditária, que não requer aprendizagem e se manifesta mediante estímulos específicos, tendo como objetivo conservar a vida e permitir a sua evolução, restabelecendo a ligação entre natureza e cultura), e, finalmente, as vivências integradoras (possuem um efeito harmonizador em si mesmas pois estão orientadas para estimular os potenciais de vitalidade, sexualidade, criatividade, afetividade e transcendência).

Música e movimento
Toro diz que a biodanza “propõe integrar e desenvolver potenciais
humanos através da dança, música e situações de encontro em grupo". Os exercícios de biodanza estão organizados a partir de um modelo teórico baseado na biologia, antropologia, psicologia e sociologia, as chamadas ciências da vida. É, assim, um processo que envolve o corpo ao nível neurológico, endócrino, imunológico e emocional.

A música é o instrumento de mediação entre a emoção e o movimento corporal, uma linguagem universal acessível à crianças e adultos de qualquer época e região que estimula a dança expressiva, a comunicação afetiva e a vivência de si mesmo. A biodanza tem a sua inspiração nas origens mais primitivas da dança já que o primeiro conhecimento do mundo, anterior à palavra, é o conhecimento pelo movimento.

A dança consiste em gestos, expressões e movimentos plenos de sentido vital, movimento de vida, ritmo biológico, ritmo do coração, da respiração, movimento de intimidade. Na biodanza o grupo é essencial no processo de mudança pois estabelece novas formas de comunicação e vínculo afetivo.

É no grupo que cada participante encontra suporte afetivo e permissão para o contacto e expressão da própria identidade.
A emoção e a vivência experimentadas constituem o princípio regulador das funções neurovegetativas, ativando-as ou moderando a sua atividade.

Benefícios da biodanza
Os benefícios da prática da biodanza são variadíssimos. São observados ao nível da integração motora (ritmo, coordenação, flexibilidade, fluidez, elasticidade, unidade e harmonia dos movimentos), da auto-regulação sistêmica (equilíbrio neurovegetativo e eliminação de sintomas psicossomáticos), do aumento da resistência imunológica, do aumento da energia vital e disposição para a ação e do aumento da alegria e coragem de viver (ampliação da perceção de ser parte da totalidade).

O desenvolvimento biocêntrico prematuro, área da biodanza destinada à psicoprofilaxia através do desenvolvimento dos potenciais afetivos e criativos da criança e do adolescente conduz à expressão criativa, reforça a atividade cognitiva através do estímulo afetivo e estimula a concentração através do desfrute do movimento integrado. Na criança o objetivo passa por elevar o nível de saúde e de criatividade, facilitar a expressão afetiva, mediante o processo de integração entre ação e emoção, promover autodisciplina e concentração e favorecer a integração no grupo.

No adolescente a biodanza estimula a expressão do potencial, o reforço da própria identidade e a perceção do outro. Nestes casos o objetivo já passa por vincular o adolescente aos seus potenciais, propor-lhe um leito criativo para o seu impulso vital, abordar a identidade nos seus diversos aspetos, facilitar o processo de integração entre ação e emoção, promover a integração no grupo, ampliar o universo do adolescente e gerar-lhe um espaço de reflecção.
Diz Maria Correia, hoje, que a biodanza é uma prática “que só fazendo e sentindo se poderá entender”. Defende, por isso, a sua prática desde tenra idade. “Quanto mais cedo, melhor”, assegura. E alerta para a existência, quer em Lisboa, quer em todo o país, de lugares credenciados para a sua prática. Basta procurar na internet os contactos para se frequentar uma aula aberta. Experimente. Se gostar, fica para as aulas regulares.

Texto: Eva Falcão