Nasceu a 1 de Outubro de 1847 em Londres. Annie Besant foi uma mulher cheia de energia e de sensibilidade pelo sofrimento alheio, que apelou à generosidade e à congregação de esforços de todos os que podiam contribuir para a construção de um mundo melhor...

Aos cinco anos de idade perdeu o pai, homem de sólida cultura humanista, matemático e professor. Após a sua morte iniciou-se uma época difícil, tanto do ponto de vista emocional como do económico. Aos oito anos, foi viver para Harrow com a mãe e o irmão, numa casa antiquíssima com um amplo jardim onde viveu um período feliz. A Senhora Marryat, irmã de um conhecido escritor da época, ofereceu-se para providenciar a Annie uma educação esmerada. O tipo de educação que recebeu, tanto da mãe como da Sra. Marryat, acentuaram a natural religiosidade do seu carácter.

Aos 19 anos, ficou noiva do Reverendo Frank Besant, com quem casou um ano e três meses depois. Mas o único resultado feliz do casamento foram os dois filhos. Perto da separação, cruéis dúvidas de âmbito religioso a torturaram. Poderá haver um castigo externo depois da morte, como sustentam as Igrejas? Existindo um Deus bom, como pôde criar a Humanidade, sabendo previamente que a maioria dos homens sofreria para sempre as torturas do Inferno? Existindo um Deus equitativo, como podia permitir a eternidade do pecado, de maneira que o mal fosse tão duradoiro como o bem?

Estes e outros problemas similares tocavam em pontos tão importantes e sérios para Annie que a impediram de continuar a considerar-se cristã ou sequer, como o marido pretendia impor, de participar em actos e cerimónias que pressupunham que o fosse. Assim, quando o marido lhe deu a escolher entre duas únicas opções, a submissão ao fingimento ou a separação, esta foi inevitável, por muito incómoda e até escandalosa que fosse na época.

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Tendo sido difícil a luta pela sobrevivência que se seguiu, bem mais dolorosa foi a privação da custódia dos seus filhos. A decisão fundamentou-se exclusivamente nas opções filosóficas de Annie, que, diziam, não lhe permitiam ser uma boa educadora. No entanto, logo atingida a maioridade e liberdade de escolha, ambos os filhos se juntaram à mãe, que continuaram a adorar com devoção e orgulho.

Foi a partir da separação, com apenas 25 anos de idade, que Annie se dedicou mais do que nunca às questões religiosas e filosóficas que a atormentavam e alargou o seu interesse pela política e pela ciência, ampliando a sua cultura até níveis extraordinários. A sua reflexão sobre as questões religiosas conduziu-a até posições de agnosticismo, mas com um sentido muito profundo da concepção do uno (uma eterna e única substância).

Ao mesmo tempo interessou-se vivamente pelas questões sociais, tendo, a certa altura, chegado a ser uma destacada militante socialista, defendendo os direitos da mulher e a liberdade de pensamento e expressão. Em todas estas causas empenhou-se com extraordinária coragem e notável talento oratório e literário, tendo convivido com homens de vulto como Charles Bradlaugh e George Bernard Shaw. Assim, em plena década de 1880, Annie Besant, era uma figura largamente conhecida e famosa, especialmente na Grã-Bretanha.

No início de 1889, uma das suas actividades era a de jornalista. Foi nessa qualidade que, para fazer uma crítica literária, lhe foram parar às mãos os dois grossos primeiros volumes da incomparável obra “A Doutrina Secreta”, de Helena Petrovna Blavastsky. Annie Besant levou os livros para casa e, ao lê-los, ficou assombrada. Ali estavam as ligações que antevira e procurava, mas que ainda lhe faltavam, para aceder da ciência puramente materialista à ciência do espírito, à filosofia integrada, à divina sabedoria (teo + sofia).

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Redigiu a crítica, naturalmente brilhante e entusiasmada, e escreveu a Helena Petrovna Blavastsky, pedindo permissão para a visitar. A resposta foi afirmativa e o primeiro encontro deixou uma forte impressão em Annie Besant que, pouco tempo depois, repetiu a visita, informando-se melhor sobre como ingressar na Sociedade Teosófica.

Nos anos seguintes, e ao longo dos restantes 44 anos e meio da sua vida, Annie Besant não perdeu oportunidade de defender a sua grande amiga, que terá compreendido mais íntima e profundamente do que ninguém. Desta forma, havendo com ela convivido somente dois anos, Helena Petrovna Blavastsky transmitiu a Annie a liderança espiritual do núcleo mais interno da Sociedade Teosófica e fez claramente constar essa sua vontade, antes de morrer, em Maio de 1891.

Contam-se por muitos milhares as palestras que Annie Besant realizou. A sua primeira série de conferências na Índia (1893/94) foi um sucesso tão grande que, rodeada de multidões, chegou a ter de falar sobre pequenas plataformas, em equilíbrio precário. À medida que o seu sucesso se avolumava, mal podia circular pelas ruas entre as gentes que a queriam ver, tocar e expressar a sua admiração e gratidão.

Foi em 1907 que se deu a sua eleição para Presidente da Sociedade Teosófica, cargo que exerceu durante 26 anos. O crescimento que a Sociedade Teosófica havia alcançado e o admirável génio de Annie Besant fizeram surgir a esperança de se poder induzir uma grande mudança nos valores dominantes no mundo, tão caracterizados pela ignorância e pela superficialidade, pelo sectarismo e pelo ódio, de que os grandes conflitos e horrores do século XX são exemplos evidentes, substituindo-os pela cultura superior do espírito, pela fraternidade de todos os povos, pela síntese do Poder, do Amor e da Sabedoria.

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Durante a Primeira Guerra Mundial, lutou intensamente pela autonomia da Índia e foi colocada em prisão domiciliária pelas autoridades coloniais inglesas. Em 1917, com a presença de Ghandi e de outros líderes indianos, Besant, aos 70 anos, tornou-se Presidente do Congresso Nacional Indiano, o mais elevado título honorário que o povo indiano podia conceder.

Das suas obras destacamos “Brahmavidya”, “Karma”, “Introdução ao Ioga”, “A Doutrina do Coração”, “Os Sete Princípios do Homem”, “Dharma”, “A Vida Espiritual e Criatianismo Esotérico”. Annie Besant deixou um legado de luta e um exemplo de força. Faleceu em 1933, aos 85 anos, na Índia, onde foi cremada de acordo com os ritos hindus.

Fonte: Biosofia nº2
Revista distríbuida pelo O Centro Lusitano de Unificação Cultural
Adaptado por Susana Vargues