Durante este período, os alquimistas procediam à lavagem dos instrumentos e dos materiais do nigredo calcinados - a raiz latina de albedo é alvo, branco, que é a cor das cinzas. No confronto com “a noite escura da alma”, dá-se a calcinatio, a queima dos nossos desejos frustrados, com um efeito profundamente purgador e purificador. Prepara-se o terreno psicológico para, mais à frente no rubedo, renascer em nós um fogo maior, que nos liga muito mais profundamente a toda a Vida.

A paixão, por exemplo, tem um efeito solutio, - uma operação alquímica fundamental ligada à água, que visa:

- A transformação dos aspectos fixos e estáticos da personalidade, pela sua dissolução através da análise dos produtos do inconsciente e questionando as atitudes do ego.

Na paixão, como na perda de um amor, dissolvemo-nos nas profundezas do inconsciente. Podemos até sentir-nos inundados por emoções tão profundas, que quase nos afogamos nas aguas da dor ou do desejo. Os sonhos que temos com inundações podem referir-se muitas vezes à solutio – psicologicamente, é uma etapa em que nos podemos sentir dissolvidos, as nossas expectativas não mais têm chão para serem alimentadas e entramos num processo de análise das diversas partes em conflito dentro de nós.

Exercício (cerca de meia hora): preferencialmente no escuro, numa banheira com água salgada submergir-se ficando apenas com o rosto de fora de água. Focalize-se na respiração e deixe que os seus pensamentos se acalmem. Gradualmente permita que a experiência de rendição à fluidez da água desperta os seus sentimentos: não lhes resista: tome consciência deles e flua com eles. Seja água como a água.

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De um ponto de vista psicológico, nesta fase começamos a ter intuições e pistas mais profundas sobre como uma dada emoção surgiu, porque é que odiamos ou invejamos aquela pessoa. Este entendimento mental transforma a intensidade da emoção – outra alquimia. No albedo há um exame mais racional dos sentimentos. A pessoa começa a fornecer explicações para as suas reacções, a entender o que as motivou. Há um afastamento das emoções que possibilita uma re-interpretação do que aconteceu. Compreendemos que estamos perante uma vida nova que, vista à luz do albedo, já não parece tão difícil nem tão sofrida. No albedo demandamos a nossa alma e continua a ser importante partilharmos essa busca com alguém. Nesta fase, compreendemos que somos outra pessoa, apesar de não sabermos ainda bem quem somos. Depois de termos sido “vencidos pelo cansaço“ na fase anterior, aqui aprendemos a depor as armas, a não usar mais a nossa força contra nós, a aceitar o sentimento de impotência que nos vem ensinar que a vida não se deixa controlar pelas nossas ilusões. É um estado de transição, uma pausa em que é importante tornarmo-nos mais receptivos para que a Obra possa continuar a crescer em nós.

Nesta fase é possível fazermos em maior ou menor grau a integração consciente do arquétipo oposto ou seja, do “feminino" para os homens (arquétipo da "Anima") e do “masculino" para as mulheres (arquétipo do "Animus"). O ser humano, tanto física como psiquicamente, é um conglomerado de opostos. Nos nossos genes há elementos masculinos e femininos e o mesmo acontece no nosso psiquismo. Para o homem a "Anima" encontra-se inicialmente submersa no seu inconsciente pessoal misturada com a "Sombra", tal como o Animus para a mulher. Uma vez que estas nossas contrapartes feminina e masculina tenham sido integradas na psique, transformam-se numa "ponte" que nos liga ao inconsciente colectivo e aos seus arquétipos. Esta fase ensina que em última análise, teremos que fazer a íntima união dos componentes da nossa própria personalidade. O casamento espiritual ou as bodas alquímicas são uma vivência interna, não já projectada no outro. É uma unificação dos contrários internos.

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No albedo, precisamos também encarar o que é que não queremos mais, que compulsões, ideias, crenças, atitudes, emoções, relações, já não nos servem e que precisamos com humildade, ir erradicando para que não coagulem de novo em nós, como toxinas. Separar o que queremos do que já não nos serve é também um tempo de re-organização. E um período onde sentimos as coisas fluírem com mais facilidade e menos sofrimento.

Exercício: Deitado na terra, areia ou relva, olhando o céu, relaxe por alguns momentos. Visualize o problema/dificuldade que quer trabalhar, a escorrer do seu corpo para a terra (como se destilasse de si). Sinta a energia subtil da terra e vizualize-a agora ascendendo das entranhas da terra até ao seu corpo, trazendo-lhe frescura, solidez e segurança.

Nesta fase, é importante que a pessoa não fique imobilizada na análise – dela mesma, do sentido da vida, das relações. Que não fique imobilizada nas teorias e incapaz de ver o que está a acontecer à sua volta e de agir. O risco no albedo, o que aqui nos impede de passar à fase seguinte, é o de ficarmos ainda muito centrados em nós mesmos. De não sermos capazes de deixar aquilo que já não queremos, de não empilharmos tudo isso num monte e de lhe deitarmos fogo. Por exemplo, já percebemos que estamos numa relação afectiva onde já não há vida nem estímulo, mas ainda não conseguimos partir; já não conseguimos ir trabalhar porque aquele emprego tira-nos a energia; sabemos que a nossa vocação está noutra parte, noutra actividade, mas não temos ainda coragem para ir embora e bater com a porta. Este é o risco, no albedo, o de não concluirmos o processo.

No albedo, idealmente, começamos a perceber que o caminho não é algo que acontece fora de nós, mas que nós e o caminho somos a mesma coisa, ou seja: o alquimista e o objectivo do seu trabalho - a iluminação - são o mesmo. Deixa de haver um sujeito e um objecto e passa a haver um processo.

Quando o Albedo foi bem integrado, conquista-se:

- Vitalidade e sentido de propósito
- Consciência das sincronicidades
- Uso criativo dos sonhos/imaginação/visualização.
No albedo, renovamos a nossa eficácia na esfera social, alcançando um novo nível de pacificação nos nossos relacionamentos.

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Os rituais de passagem e a Alquimia da Vida

Os rituais de passagem que sempre existiram na história da humanidade correspondem a processos de iniciação que marcam etapas de transformação pessoal com mudanças nos padrões conscientes e inconscientes. O noviço, aprendiz ou neófito cruza o limiar de uma nova realidade e renasce uma nova pessoa. Todas as tradições têm os seus rituais de passagem que reforçam o sentido de pertença da pessoa ao seu grupo/clã, e a ajudam extraordinariamente no profundo e fascinante processo de se ser Humano, progredindo através de várias etapas de morte e renascimento.

Alguns exemplos de ritos de passagem: cerimónias de nascimento e de atribuição de nome, baptismo, cerimónias de chegada à puberdade (como a circuncisão ou a celebração da primeira menstruação), o casamento, a viuvez ou as cerimónias próprias da morte.

Aqueles ritos visam preparar a pessoa para o novo estágio, muitas vezes através de exercícios e vivências rigorosos que promoviam o rompimento radical das atitudes com os padrões de psicológicos e de funcionamento do estágio anterior. A estas experiências deveria seguir-se um período de isolamento, uma fase de adaptação necessária para que a morte e o renascimento se completem. Para que o noviço consiga efectivamente contactar com esse poder que deve aprender a dominar. No final deste período, ele volta a ser apresentado à comunidade/grupo com a sua nova condição e comportamentos correspondentes. A pessoa nunca mais será a mesma: como na Jornada do Herói, ela é chamada à Aventura da iniciação: cruza o Limiar dos Mundos, (retiro e contacto com o inconsciente) onde morre para a sua antiga forma de existir e enfrenta vários desafios até conquistar a recompensa da transformação. De regresso à realidade, após a metamorfose profunda que viveu no seu âmago, vai ocupar o seu lugar no grupo/sociedade.

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Regressado de uma travessia no deserto onde se encontrou com os seus próprios fantasmas (os nossos medos da mudança, de sermos abandonados, de ficarmos impotentes, de sofrer, de morrer, de perder) o herói que é cada um de nós no Caminho da Vida, recria assim o seu mundo interior, à luz de uma nova força e saber de experiência feito.

Nesse sub-mundo em que entramos pela mão das provações, contactamos mais profundamente com a alma e a Essência que nos habita; é ela que em nós reanima forças esquecidas, iluminando camadas sombrias e preparando-nos para retornar ao mundo da superfície revitalizados e tornados na pessoa que realmente nascemos para vir a ser. Renascendo na nossa humanidade em nova comunhão com a alma, alargamos os horizontes do que julgávamos ser possível conquistar nas nossas vidas. Descobrimos nova esperança e que os antigos limites já não têm vigência sobre nós. Acreditamos que a vida é mais abundante em recursos e oportunidades do que antes fomos ensinados a esperar e tomamos a construção da nossa felicidade nas mãos.

O divórcio, a síndrome do ninho vazio (quando os filhos deixam o lar paterno) a perda de emprego, de um familiar, a emigração, uma doença grave, até um grande êxito são ritos de passagem que muito beneficiariam da antiga sabedoria curadora que nos conduz pelos labirintos emocionais e pelas alterações físicas da mudança, rumo a uma existência mais consciente, fortalecida e vital.

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Muito perdemos hoje, nas sociedades ocidentais contemporâneas, com o abandono destes ritos de passagem: eles são como que manuais da alquimia da vida, que nos acompanham desde o nigredo dos abismos da alma, ao rubedo da ressurreição de uma nova identidade, auto-consciência e felicidade. Lembre-se, em cada transição da sua vida, de fazer um tempo de pausa para deixar ir o antigo e saudar o novo. A alquimia da felicidade implica aceitar as várias metamorfoses da vida como se fossem um processo de lapidação do seu diamante interior.

A melhor maneira de se ser feliz é contribuir para a felicidade dos outros.
(Confúcio)

A terceira etapa: O Citredo

Continua no próximo artigo.

Vera Faria Leal

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Convidada: Vera Faria Leal

Vera Faria Leal é Licenciada em Relações Internacionais. Trabalhou em Comunicação Institucional, Relações Públicas, Marketing, Qualidade e Formação na Banca durante vários anos.

Diplomada por Louise Hay e convidada por Patrícia Crane - continuadora do trabalho de L.H. no mundo - com quem co-facilitou curso em Inglaterra, para ser a Formadora de Facilitadores do Método Louise Hay em Portugal, desde 2004.

Foi Consultora de Auto-Estima para o programa «Elas em Marte», na SIC Mulher, contando com diversas participações televisivas. Tem artigos publicados na imprensa sobre transformação pessoal e Astrologia.

Estuda Astrologia desde 1995. Faz Aconselhamento Astrológico e é professora de Astrologia Vivencial no Centro Quiron, realizando cursos e palestras no país.

Iniciou com Rui Peixoto em 2008 a Escola de Astrologia do Centro Alquimia do Ser.

Autora de vários livros e Cds de Desenvolvimento Pessoal e do DVD "O SEGREDO PARA ALÉM DE O SEGREDO". Fundadora em Portugal do movimento espiritual internacional: "Humanity`s Team - Juntos pela Humanidade", criado nos EUA por Neale Donald Walsch (autor de Conversas com Deus).
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