Abraham Maslow, psicólogo americano, dizia que “todos nós sentimos medo de nossas possibilidades mais elevadas, que temos medo de vislumbrar nossos momentos mais perfeitos, sob condições de grande coragem”. Concordo com ele.

O mundo e nosso Planeta passam hoje por uma espécie de insegurança generalizada, reflexo da crise económica americana. Mesmo insatisfeitos com o resultado da má administração de nossas riquezas e de um capitalismo desenfreado que provoca desigualdades profundas em alguns países do mundo, quando vivenciamos crises pessoais ou colectivas, nossos medos e inseguranças são activados e desencadeados em série. Neste sensível momento pessoal e colectivo precisamos parar para reflectir e tentar entender o sentido mais profundo do que está por trás dos acontecimentos. Quando conseguimos dar um significado e traduzir em crescimento as dores e frustrações que vivemos conseguimos expandir nossas consciências, entrar em contacto com uma fé mais aprofundada e dar um grande salto em nosso processo evolutivo.

Toda crise é desencadeada para podermos avaliar as escolhas que fizemos até então e retomar o equilíbrio onde ele já não existe mais. Somos obrigados, mesmo sem querer, a reavaliar nossas vidas e verificar a autenticidade de nossas escolhas. Nesse momento devemos nos perguntar:

Até que ponto o caminho que escolhi está de acordo com o que sou?

Em um primeiro instante, a sensação é de dor, frustração e medo e nossa tendência humana é negar, fazer de tudo para deixar as coisas como estão. Num segundo momento, sentimos que estamos perdendo o controle e isso começa a apavorar, pois não há pior sentimento para todos nós do que a sensação de impotência. E então somos lançados pelo Universo a uma prova de fogo.

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Toda crise desencadeia um fluxo de energias muito poderosas e transformadoras e se nos propusermos a colaborar com esse fluxo poderemos trabalhar de forma consciente e constructiva, mesmo no meio da confusão.

Vivemos um momento crucial de mudança de eras e devemos nos preparar e nos dispor a enfrentar transformações necessárias em nosso nível de consciência. Precisamos estar abertos ao novo e isso requer um intenso trabalho de mudança de comportamento, hábitos e actitudes. As antigas religiões, com sua idéia de separação, que por toda vida deram sentido e segurança a todos, perdem sua força e nos obrigam a buscar respostas dentro, e não fora de nós.

A espiritualidade começa a fazer mais sentido, pois traduz a concepção da verdade completa com uma idéia oposta, a de unidade. Deus passa a ser concebido como uma Imensa Energia Inteligente e somos obrigados, de uma forma ou de outra, a contactar e aceitar nossa grandeza, nossa responsabilidade, como causadores e constructores de realidades. Devemos deixar de lado a conexão do que foi implantado e encontrar o próprio caminho espiritual, se quisermos reencontrar a paz. Precisamos encontrar o caminho de volta, a ir em direção ao espírito. É necesssário trabalhar, para muitos é importante enriquecer, estar em contato constante com o mundo da matéria e isso também é fundamental para o nosso crescimento, mas os princípios da individualidade estão dentro de nós. Nesta fase todos nós precisamos dar um passo em direcção à nossa alma em busca de um novo sentido, que certamente irá trazer maior equilíbrio e menos doenças a todos nós.

Neste momento estamos atravessando o limiar entre matéria e o espírito, e não sabemos ao certo o que está à nossa frente. Há algo dentro de nós que não faz mais sentido, que já não funciona mais como antes. A cada ano que passa, mais e mais pessoas terão sentimentos verdadeiros e profundos, mas certamente esse despertar não acontecerá sem uma grande crise. O real encontro que tanto buscamos com o Divino está dentro de nós e, por isso, o que há de mais importante neste momento de crise e mudanças mundiais é a entrega e a fé. É natural que, quando somos arremessados violentamente a um estado de crise, seja através de uma doença ou de uma perda significativa que coloque em risco nossa segurança, não consigamos enxergar nada para além da nossa dor e desespero. Nossas emoções tornam-se a coisa mais importante da vida e não conseguimos olhar para nada além de nós mesmos.

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Queremos um colo macio e um ombro amigo para ouvir as nossas lamentações. É preciso entrar em contacto com esses sentimentos profundamente, chorar, lamentar-se, deixar que a falta de fé tome conta das nossas almas. Sempre que fazemos um contacto mais intenso e profundo com as nossas emoções, despertamos nosso curador interno. Quando nos permitimos a entrega e chegamos à conclusão que mais nada podemos fazer para solucionar os problemas, um milagre começa a acontecer. A magia da vida se manifesta através da nossa fé, da certeza que tudo passa, e passamos a abrir espaços para que o novo possa manifestar-se.

A crise está aí e não podemos evitá-la. Não nos resta saída a não ser aceitá-la. Pois então, aceite-a e observe atentamente quais as áreas de seu cérebro e de seu coração ainda não foram utilizados por você. Aproveite a oportunidade e mude. Faça um novo projecto e pense somente na solução de seus problemas. Não fique focado na crise e sim na solução e na forma de preencher o vazio que ela deixou com novos talentos que nem mesmo você sabia que possuia. Accione a coragem dentro de você e siga adiante!

Eunice Ferrari

www.euniceferrari.net
E-mail: eunice.ferrari@sapo.pt