Quando o homem atravessa uma crise no seu percurso de vida, encontra-se consigo próprio e com aquilo que criou para si. E onde entra a dor? A dor é ilusão de separação. A dor é a atenção no caminho e a negação do caminhante. A dor sempre esteve aí, tal como o está a beatitude infinita. E no entanto, para a consciência do homem são estados impermanentes. Melhor, intermitentes - como a luz e a sua falta numa lâmpada que pisca.

Assim como a beatitude nasce da lembrança - ainda que momentânea - da nossa natureza divina, a dor surge do esquecimento que a vida humana é o trilho da divisão. A dor só emerge quando tem missão a cumprir, lembrando ao homem que se lembre de si próprio. Lembrando ao homem que ele é quem olha, mas quem deve ser visto também. Lembrando-o de que só pode conhecer na medida em que se conhecer. A dor convida o caminhante a parar a marcha sôfrega, a retirar os olhos da estrada e olhar para si próprio.

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É altura de pousar a carga que pesa de tantas serem as coisas que escolheu lá pôr dentro e levar consigo; é altura de parar de amaldiçoar o caminho e olhar para os próprios pés verificando se estão convenientemente calçados; é altura de dar a si próprio o tempo de repousar numa encruzilhada antes de seguir o caminho.

Talvez aí o caminhante se sente e feche os olhos; talvez aí o caminhante reveja mentalmente todo o caminho que percorreu e o levou ao lugar onde se senta; talvez aí o caminhante possa traçar novos planos ou ver-se livre das coisas que traz consigo e já não necessita, deixando-as para outros que venham atrás e possam delas precisar; talvez aí o caminhante decida percorrer um caminho diferente; talvez o caminhante descubra que não há lugar nenhum onde ir, nenhum sítio aonde chegar. E talvez nesse momento a relação do caminhante com o caminho se altere profundamente. Talvez respire fundo e fique onde está, ou então retome o caminho - mas com uma nova liberdade, uma nova consciência, e os seus passos não serão mais dados por necessidade de chegar. O caminhante então saberá que o caminhar é o próprio caminho e a aventura maior.

E agradecerá à dor, que o fez parar, por esta nova descoberta.

Nuno Michaels

Nuno Michaels é conselheiro astrológico, Life-Coach e professor de Astrologia Psicológica no QUIRON - Centro Português de Astrologia. Orienta grupos em Lisboa, Porto e Faro e mantém, desde Janeiro de 2009, uma rubrica semanal sobre Astrologia, Espiritualidade e Desenvolvimento Pessoal no Rádio Clube Português.
Mais sobre o seu trabalho em www.nunomichaels.com

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