Na Idade Média os teólogos tiveram de confrontar-se com o dilema de classificar a Astrologia, se como ciência legítima ou como uma arte divinatória proibida.

No Liber Introductorius”, de Michael Scott (1235), pode ler-se: “Todo o astrólogo é digno de ser considerado e respeitado, porque tem o favor de Deus, seu Criador, uma vez que com a sua doutrina e os seus conhecimentos de astronomia conhece, talvez, muitos segredos divinos e outras coisas que poucos conhecem”.

No início da Idade Média, os teólogos depararam-se com o problema de classificar a astrologia ou como ciência legítima ou como uma arte divinatória proibida. John de Salsbury (1115-1180) decidiu que, pelas suas amplas aspirações proféticas e a sua aparente negação do livre arbítrio, a astrologia usurpava o poder das estrelas ao próprio Criador. Deve-se a Santo Alberto Magno (1200-80) a separação da astrologia das suas associações pagãs.

Santo Alberto foi o primeiro em compreender o valor teológico da ciência e das filosofias grega e árabe. O seu grande mérito foi tornar este conhecimento acessível à civilização ocidental, sobretudo os ensinamentos de Aristóteles, segundo os quais era básica a doutrina que dizia que os acontecimentos terrenos eram governados pelas esferas celestes. Santo Alberto chegou à conclusão de que, ainda que as estrelas não pudessem exercer influência sobre a alma humana, influenciavam o corpo e a vontade humanas.

São Tomás de Aquino(1225-1274), um dos mais importantes teólogos cristãos, concretizou ainda mais as ideias de Santo Alberto. A astrologia, excluídos os elementos de magia, poderia ser aceite como objecto digno de estudo e, além disso, poderia considerar-se como um complemento da visão de Universo da própria Igreja.

Veja a continuação do artigo na próxima página

A Astrologia como disciplina académica

O respeito académico de que goza, a partir de então, a Astrologia, reflecte-se nas novas universidades europeias, nas quais os estudos astrológicos faziam parte do plano de estudos. A Universidade de Bolonha, onde estudaram Dante e Petrarca, teve uma cátedra de Astrologia desde 1125. O título de astrólogo era tão importante como qualquer outro e o astrólogo era olhado com o maior respeito.

À medida que decorria a Idade Média foi crescendo entre os astrólogos uma tendência a exagerar. Um dos astrólogos mais conhecidos do século XIII, Guido Bonatti, escreveu um livro que se tornou muito popular e esteve ao serviço do Conde Guido de Montefeltro. Era tal o exagero que, ao iniciarem-se as campanhas militares do Conde, mandava, por indicação das estrelas, tocar um sino para que os soldados colocassem a armadura, outra vez para que montassem a cavalo e outra para que partissem a galope. Dante, no seu “Inferno”, condenou Bonatti, queixando-se que misturavam ciência e magia e, nos últimos livros da Divina Comédia, voltou a dar à Astrologia a dignidade que merecia. Com a chegada do Renascimento, baixou a popularidade da Astrologia, sendo os próprios Papas quem a protegeu.

Algumas curiosidades:

O Papa Sixto IV (1414- 1484) foi um dos primeiros Papas que levantou e interpretou um horóscopo.

Nos primeiros tempos do Renascimento a Astrologia gozava de grande popularidade e o Papa Júlio II, consultou um astrólogo para fixar o dia da sua coroação.

Dizia Santo Tomás de Aquino (1225- 1274): “Os corpos celestes são a causa de tudo o que se passa no mundo sub-lunar.”

José Arjones Maiquez, Arteimagem