Mas a astrologia é muito mais do que a prevenção do que vai acontecer.

A astrologia é uma ciência de ciclos. Mostra que tudo na existência está numa determinada fase de um ciclo. Tudo está em processo. E sendo a astrologia baseada no principio hermético que ensina: “Assim como é em cima, assim é em baixo”, olhamos para o Céu e as posições planetárias representam um espelho de símbolos daquilo que ocorre na Terra, seja individual ou colectivamente.

Como os ciclos cósmicos são astronomicamente possíveis de serem previstos, então podemos também olhar para este espelho gigante que é o céu, e vermos o passado e o futuro. Quando olhamos para o movimento que o astro faz no céu, podemos então prever que tipo de “movimento” ocorrerá aqui, na Terra. É importante perceber que o movimento do planeta no céu não condiciona o que vai acontecer, ele simplesmente reflecte, como um espelho, simultaneamente, ou sincronizadamente, o que acontece dentro do indivíduo ou dentro de um contexto social.

Na verdade, a interpretação que se faz deste movimento, para a maioria das pessoas é interpretada como uma “previsão” ou como uma “tendência” do que vai acontecer. E qual é o objectivo de uma astrologia assim? Controle. Controlar os eventos, tentar “preparar-se” para aquilo que vier, aproveitar as fases boas e evitar as más.

Tudo isso retira o indivíduo do único momento que ele realmente vive, o AGORA. Viver no agora é muito difícil, pois a mente humana está constantemente a saltar pelo passado e pelo futuro, mas nunca repousa no presente.

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Os ensinamentos espirituais ensinam que a mente e a necessidade de controlar o futuro, são a única fonte de sofrimento no homem. A mente tenta perpetuar no tempo aquilo que é bom, e evitar o que é mal. Esta é a maior ilusão de todas, é aquilo que nos prende a uma vida cheia de medos e desejos, que nunca trazem a plenitude e a paz. A plenitude, só pode ser vivida no presente, aqui e agora.

Não há nada que se possa fazer no futuro para alcançá-la. Só se pode viver pleno agora. A mente cria a ilusão de que se eu fizer isto, ou tiver isto, ou deixar de sofrer aquilo, aí sim estarei pleno. Mas este momento nunca chega, pois está-se sempre a projectar para o futuro a felicidade e não se consegue desfrutá-la no presente, pois a mente não vive no presente. Mesmo quando as coisas boas acontecem, a mente, com medo de perder esta segurança ou conforto, preocupa-se em manter o que é bom, e deixa de desfrutá-lo.

A astrologia pode, evidentemente, ser usada para controlar os medos e tentar satisfazer os desejos. Pode ser outra ferramenta ao serviço da mente. Ou, pode apontar para outro sítio...

Sendo a astrologia uma ciência de ciclos, é fundamental conhecer o ciclo por inteiro, para se situar o momento em que se vive. A astrologia permite viver o agora com consciência e não com medo ou expectativa do futuro. Permite também compreender o passado e porque as coisas aconteceram. Quando se tem uma visão maior do ciclo, é possível significar os eventos, compreender o seu porquê. Ao invés das situações difíceis se tornarem traumas que condicionam nossa percepção, pode-se compreender o porquê das coisas serem como são.

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E então o indivíduo com consciência passa pelas experiências de forma diferente. Podemos fazer uma analogia dos níveis de consciência entre o adulto e a criança. Vamos supor que uma criança está doente e apesar de grave, uma simples injecção pode curá-la. A criança, com o seu nível de consciência “infantil” geralmente entra em pânico com medo da injecção. Só pensa na agulha, na dor que vai ser, fica aterrorizada até o momento da injecção. Chora, descabela-se, contrai-se na hora de tomar a picada e é claro que a dor a traumatiza por muito tempo. A criança fica curada da doença mas isso não importa, a dor é traumatizante demais para pensar noutra coisa. Agora imagine um adulto, na mesma situação, está gravemente doente mas uma injecção irá curá-lo.

Ele fica feliz em saber que há cura e é claro que é chato levar uma picada, mas isso nem se compara com o que é ficar gravemente doente e correr risco de vida. Ainda bem que existe injecção. Dói, sim, mas aquela dorzinha não significa nada, perto da gravidade da doença. A dor na criança e no adulto é praticamente a mesma, a não ser que a criança resista muito e se contraia pode doer um pouco mais, mas a forma como interpretam o evento é que é completamente diferente.

Um compreende a totalidade do processo: ficar doente – injecção – cura, o outro não percebe o processo e viverá em sofrimento por antecipação (da picada) e depois traumatizado, preso a experiência do passado.

Quando se trata dos trânsitos e portanto, dos eventos que nos ocorrem, podemos interpretá-los com níveis de consciência diferentes. Dependendo na nossa capacidade de compreender o ciclo maior. Se transportarmos o exemplo acima para uma situação difícil na vida de duas pessoas com níveis de consciência diferentes, poderemos perceber como cada um vai viver a mesma experiência.

A astrologia ensina-nos que existe uma intenção inteligente no universo e esta intenção chama-se EVOLUÇÃO. Qualquer evento que aconteça na vida de uma pessoa tem, SEMPRE, a função de permitir a evolução deste ser.

E, por isso mesmo, não faz sentido tentar evitar, controlar, manter, perpetuar coisa alguma, pois a vida é mais sábia do que nós. Mas podemos aprender com esta sabedoria e vivermos no único sítio que de facto existe: o agora.

Só no agora se pode estar pleno. E a plenitude nada tem a ver com coisas boas que nos ocorrem, ou coisas más que deixam de ocorrer. Tem a ver com compreensão e aceitação do que é evolução.

por Juliana Estevez