É impossível (acredito eu) entrar neste mês de Julho sem nos sentirmos ainda atordoados depois de toda a confusão pela qual (certamente) a maior parte de nós passou. Mas existe Ordem dentro do Caos, a instabilidade antecede sempre um novo ciclo porque para que algo novo se inicie, algo do que já existe precisa de sofrer um processo de “desordem” aparente que tem como propósito desencadear determinados efeitos de mudança num futuro próximo. Não foi por acaso que em “Junho Astrológico” me foquei no simbolismo da energia de “Shiva” e a associei à mutabilidade e às configurações planetárias que marcaram o mês que passou. Recordo que associei a energia de “Shiva” aos ciclos planetários desse mês, aos processos de destruição a que obriga qualquer processo de transição (a energia mutável). E durante este processo “mutável” ou de “digestão”, o Caos é inevitável. Acontecimento que simboliza isto na perfeição foi a saída do Reino Unido da União Europeia e como esta decisão provocou o Caos dentro dum sistema com uma forma aparentemente organizada. Este Caos nunca irá permitir que a “forma” seja a mesma. Ela nunca será… E inevitavelmente algo novo terá que ser criado, uma nova Europa terá que nascer deste elo partido. Mas a própria Teoria do Caos assenta no pressuposto de que há um padrão nessa aparente desordem e que, apesar da sensação aleatória na manifestação dos eventos, nada é feito ao acaso. E a uma escala mais micro quase que aposto que na vida de cada um de nós deu-se aquele elo partido, instalou-se aquele pequeno caos que vai desencadear os processos necessários de transição, reformulação e descondicionamento para um novo ciclo. Na vida de cada um de nós teve que existir igualmente um “referendo” que nos obrigou a escolher o que fica e o que vai, o que ainda é separação em mim ou estado de União.
E é claro que contribuiu, e foi factor principal, para esta temática a quadratura Saturno / Neptuno, a marca por excelência do Caos. Se há coisa que Neptuno adora é trazer Caos a Saturno. Tudo parecia tão certinho, tão em Ordem… mas era tudo uma Ilusão… E o Caos manter-se-á até Outubro deste ano, mas porque temos que avançar para as propostas que o mês de Julho nos oferece recomendo a leitura de “Junho Astrológico” e “O que contam são os nossos Esforços” para relembrar a simbologia da relação entre estes dois arquétipos.
E por falarmos de início, de nascimento, este é um mês com enfoque principal no signo de Caranguejo e no elemento Água, pelo menos até ao dia 22. Mantém-se neste signo Vénus até ao dia 12, Mercúrio até ao dia 14 e o Sol até ao dia 22. À excepção de Úrano em Carneiro e Saturno em Sagitário todos os restantes planetas (à excepção da Lua que percorre todos os signos durante o mês), a energia é essencialmente Yin (mais receptiva e introspectiva). Ao fim de tanta “opinião” e “referendo” é tempo de sentir o que dizem “os inquilinos” internos, de iluminar os recantos da casa de cada um, de cada pátria, de cada nação.

E ao longo deste mês de Julho (até ao dia 20), Vénus, Mercúrio e Sol desenvolvem um grande trígono com Marte em Escorpião e Neptuno e Quíron em Peixes. Um grande trígono é uma configuração entre aspectos que sugere uma comunicação perfeita entre cada uma das partes envolvidas, através do qual as energias fluem sem atrito, sem bloqueios, e onde a circulação é permanente. Em grande parte por este motivo, os trígonos podem ser extraordinariamente passivos e por isso mesmo requerem um maior esforço para deles tirar maior proveito. A Água é (entre muito mais do que aqui vou descrever) o elemento que representa todo o conjunto das nossas emoções, sentimentos e memórias. Com este grande trígono é como se abríssemos as comportas das nossas barragens internas e deixássemos circular todo o tipo de correntes. Podemos ser surpreendidos por tsunamis, pequenos ribeiros, por águas turbulentas ou serenas. O objectivo do grande trígono em elemento água é promover uma comunicação fluída entre todos os nossos estados emocionais, sentimentos e reservatório de memórias, integrá-los na nossa Consciência e manter a vida interior a circular. Mantermo-nos coesos internamente, ligados a todas as partes de nós mesmos, unidos. A água tem igualmente o dom da limpeza e da purificação, mas onde há águas paradas não há vida, apenas um apodrecimento progressivo que leva à degradação. Marte em Escorpião iniciou movimento directo no dia 29 de Junho, trazendo o impulso necessário para colocar as águas em movimento e a força para tomar as iniciativas que pareciam presas. Parece que nos é devolvida a coragem para agir e, mesmo no meio da confusão, conseguir definir mais claramente as metas que queremos alcançar. Mas este avanço pressupõe uma reformulação de intenções, pressupõe a determinação para enfrentar os conflictos que ainda impedem a livre circulação das águas, a coragem para por fim ao que já não contribui para o desenvolvimento da minha Consciência sem que disso possamos continuar a fugir. Afinal, durante o período em que esteve retrógrado a sua intenção era exactamente guiar-nos numa expedição aos recônditos mais sombrios da nossa psique, locais que há muito tempo não viam a luz do Sol e onde depositámos todo o tipo de material indesejado e que provocam incomodo. Tudo isto para reconhecermos a sua existência, o seu poder e como ainda condicionam o nosso desenvolvimento (consultar análises mensais anteriores). Talvez faça sentido para mim dizer que agora o guerreiro em nós sente-se capaz de iniciar as batalhas internas no sentido de produzir as transformações necessárias para que possamos abrir novos caminhos. Marte mantem-se em quincôncio a Úrano até 24 de Julho por isso a ansiedade ainda perdura pela enorme disparidade que existe entre a aceleração dos acontecimentos externos e a necessidade de agir de forma mais profunda e concentrada em determinados pontos da nossa vida. Em alguns momentos sentir-nos-emos como que sacudidos pelas circunstâncias, surpreendidos pela rapidez com tudo acontece, e ao mesmo tempo a sensação de que ainda não conseguimos acompanhar a mudança por haver ainda muito que trabalhar internamente. Se activarmos correctamente o grande trígono de água teremos ao nosso alcance os recursos de que necessitamos para compreender onde é que ainda estamos bloqueados, onde ainda não somos Livres e só assim agir em concordância para atingir esse objectivo. Caso contrário agiremos no sentido contrário, de manter e reforçar as nossas obsessões, agindo de forma anárquica e destrutiva, revoltados com a vida que não é senão um reflexo das nossas escolhas. Ao invés de uma transformação acabaremos por sucumbir no buraco que nós próprios escavámos.

E como é natural, toda esta simbologia tem efeito numa esfera individual, nacional e mundial.
E como há sempre “ordem dentro do caos”, estes planetas em Caranguejo fazem, em simultâneo com o trígono a Marte em Escorpião, sextil a Júpiter em Virgem de 1 a 12 de Julho. É a oportunidade de utilizar estas qualidades já mencionadas para ampliar a auto-análise que permite detectar as falhas internas que estão na origem do “caos”. Todo o “caos” externo reflecte um “caos” interno, nada é feito ao acaso… Olhar para dentro permite redireccionar o foco da análise para o cerne da questão, onde é que internamente ainda sou a reprodução inconsciente de um passado, de medos, de instintos, e de que forma posso reconhecer esse padrão e trabalhar de forma pró-activa para o desmontar e mudar. No entanto, se optarmos por trazer focos às nossas inseguranças e alimentar “sentimentos patrióticos” que provocam o isolamento, vamos com certeza pensar de forma egocêntrica e pessoal, e estas energias contribuirão apenas para expandir ainda mais a energia de separação e discriminação, criticando o mundo inteiro à nossa volta simplesmente porque temos dificuldade em controlar a nossa hipersensibilidade.
Vénus, Mercúrio e Sol fazem progressivamente quadratura a Úrano e oposição a Plutão de 1 a 19 de Julho. É a capacidade de desenvolver a Consciência do que em nós nos habita que vai determinar a qualidade e o aproveitamento que este encontro planetário irá produzir na vida de cada um de nós e no mundo. Porque se “Eu construo uma casa iluminada e nela habito”, eu aceito tudo o que externamente não controlo e é destruído e arrancado durante a tempestade porque, para onde quer que a vida me leve, há sempre um espaço onde o Sol brilha, onde me sinto abrigado e onde nunca falta “comida na mesa”, o Amor. Mas esta “casa iluminada” é construída a partir dos materiais que cada um possui internamente. Por isso uns conseguem construir verdadeiros castelos, verdadeiros palácios, enquanto que outros fogem de si mesmos. Para aqueles que fogem de si mesmos estas tensões com Úrano e Plutão vão destruir e romper com tudo o que para si representa segurança externa e os sentimentos de insegurança, de abandono e de incompreensão serão profundos. Para quem consegue abrigar-se na sua casa interna contempla a tempestade (sem dela fugir) como uma oportunidade para se auto-analisar, para melhorar os seus padrões de relação, de comunicação, para melhor se conhecer, e para formar maior coesão interna que permite a reconstrução da sua “casa”.
A Lua Nova que ocorre no dia 4 de Julho a 12º54’ de Caranguejo reforça o trabalho necessário para o desenvolvimento desta Consciência ao longo do mês (e sobre isto mais será desenvolvido no dia 4 de Julho).
Vénus, Mercúrio e o Sol ingressam em Leão a 12, 14 e 22 (respectivamente) e passamos progressivamente para uma energia de manifestação, de exteriorização, de Criação. A partir do dia 18 até ao fim do mês, Mercúrio e Vénus fazem trígono a Saturno em Sagitário e Úrano em Carneiro e esta é mais uma oportunidade magnífica para por em circulação a energia criativa que expande, abre novos horizontes, amplia e ajuda a consolidar uma forma mais autêntica e descondicionada de comunicação e de relacionação. Maior possibilidade de fazer fluir e estruturar novas ideias, novas formas de pensar, de procurar e atrair relações mais autênticas.
Que durante este mês de Julho consigamos estabelecer alguma Ordem dentro do Caos.

Sobre Ana Paula Pestana:
Ana Paula Pestana sempre desenvolveu a sua actividade académica e profissional na área das ciências, mas a sua busca espiritual e o interesse pelos símbolos levou-a a mudar todo o sentido e orientação que sua vida tinha até então. Aconteceu no dia em que assistiu à sua primeira aula de astrologia no Quíron com Maria Flávia de Monsaraz, em 2006. Desde então completou vários estudos em astrologia passando igualmente pela Faculty of Astrological Studies (Londres) e pelo AlmaSoma (Instituto de Transpessoal) para o desenvolvimento de ferramentas ligadas à psicologia e à espiritualidade. Desenvolve o seu conhecimento e prática astrológica (em consultas, formação, palestras e workshops) com base nos princípios do esoterismo porque, no seu entender, a astrologia é mais do que um conhecimento, é uma filosofia de vida que a fez sentir-se em Amor com a Vida. Paralelamente desenvolve um projecto de ensino em astrologia e desenvolvimento transpessoal em conjunto com a AlmaSoma (Instituto de Transpessoal) que terá início em Setembro de 2016 e que oferece ao estudante de astrologia uma estrutura de ensino profunda e completa (consulte o seu blog para mais informações).
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