No meu preconceito, Sim e Não.

E isto, embora muitos defendam que sim, porque a Astrologia teve na génese e durante muitos séculos uma missão, natureza e função essencialmente preditiva; e muitos outros defendam, do outro lado da barricada, que não, que o futuro é impossível de prever - e o senso comum convida-nos a subscrever mais esta última postura, quanto mais não seja porque se assim fosse a “validade” ou “cientificidade” da Astrologia - isto é, o seu “poder” de “prever” inequivocamente o futuro estariam mais do que provados. .

A minha visão é esta: .

Não permite prever o futuro, se entendermos por “previsão do futuro” um acontecimento concreto ou um vaticínio como “na segunda semana de Dezembro o seu marido vai ter um acidente ao voltar para casa, por causa de um trabalho de amarração feito por uma velha que veste sempre de preto, e ele tem uma amante que tem um nome que começa por A.”, então esse tipo de “futuro” a Astrologia não permite prever. .

Mas se entendermos por “previsão do futuro” a antecipação daqueles processos internos de transformação espiritual e psicológica, os timings específicos da nossa evolução, os períodos em que diferentes tarefas de crescimento nos são exigidas, os momentos de oportunidade, os momentos de balanço, os momentos de mudança, os momentos de introspecção, e seus contextos, gatilhos, motivos e pretextos prováveis, então a Astrologia é uma excelente forma de mapear o presente e compreendê-lo, antecipando e co-criando o futuro. .

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Nesse sentido, é perfeitamente possível antecipar uma oportunidade profissional, uma crise amorosa, uma fase extremamente positiva ou negativa em termos financeiros, bem como analisar os timings exactos de cada processo de vida. É perfeitamente possível compreender se estamos numa fase em que temos de tomar decisões sobre nós próprios, o casamento, a carreira ou a família (e não está tudo ligado? Na Astrologia está, e chamamos-lhe a Cruz Cardeal), de onde virão os desafios, onde podemos ou precisamos investir energia. .

É perfeitamente possível perceber se é altura de aprender a contar com nós próprios ou a partilhar com os outros. Se é altura de fazer ajustes para manter uma relação ou termos a coragem de perseguir os nossos sonhos abafados ou esquecidos. É perfeitamente possível saber até quando esperar antes de tomar a decisão irrevogável (e a decisão, compete ao astrólogo proclamar? Nunca. Apenas recordar ao seu cliente qual é a pergunta que a Vida faz. O astrólogo é intérprete das perguntas. As respostas, e a decisão final, é e será sempre do consulente). .

Assim, sob pena que este exemplo peque pela simplicidade (embora prime pela evidência), é possível, através da Astrologia, chegar a interpretações como “daqui a seis meses você vai cruzar-se de forma inesperada com um homem de poder que lhe trará grandes transformações na sua vida financeira”. Mas isto pode significar que a pessoa decide à ultima da hora fazer um curso sobre Gestão Financeira Aplicada ao Orçamento Doméstico dado por um notável e reputado professor universitário, ou que vai assistir a convite de um amigo a um workshop internacional sobre Prosperidade e Auto-Estima, como também pode significar que a pessoa recebe uma inspecção inesperada do auditor das finanças, ou do representante legal de um parente afastado com a notícia da sua morte e de uma herança, ou que a pessoa choca de frente, num zapping fortuito, com um documentário sobre a vida de um dos homens mais ricos do mundo e o programa o inspira (ou revolta profundamente) e incita a uma nova maneira de viver e ver o dinheiro. .

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Todos esses cenários são possíveis e se “encaixam” na interpretação cruzar-se de forma inesperada com um homem de poder que traz alterações na vida financeira. .

MAS quando o cliente reúne em si determinadas características que tornam mais provável determinado cenário do que outro, quando o mapa astrológico o suporta, e quando o astrólogo 1) domina uma sólida e ampla base de conhecimentos astrológicos, 2) desenvolveu uma intuição apurada, 3) tem muita experiência de interpretação e aconselhamento, e (estudantes de Astrologia, esta é para nós) 4) integra regentes, dispositores e significadores com o simbolismo das casas astrológicas e a condições natais, ENTÃO já é possível discriminar nuances que inclinam o astrólogo para a possibilidade da auditoria fiscal em detrimento do seminário de Prosperidade. .

Imaginemos que o astrólogo “acerta” em cheio. AINDA ASSIM, será esse o grande objectivo da interpretação e o valor máximo de obter esse conhecimento de antemão? Certamente que não. Pode impressionar o cliente, pode reforçar a confiança do astrólogo no seu próprio trabalho e a sua autoridade perante o cliente, pode tornar-se (apenas) mais uma “prova” de que a Astrologia “funciona”. .

Mas só se pudermos transformar o princípio abstracto “encontros significativos com repercussões sobre as finanças” em 4 ou 5 sugestões concretas, úteis e funcionais que optimizam o potencial latente do “futuro” é que capitalizamos realmente em cima desta prenda da Astrologia, que é antecipar o timing e a natureza de cada processo. Um astrólogo empenhado em ajudar o seu cliente a tirar o máximo partido deste momento certamente pensaria em sugerir: .

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1) organize as suas finanças e regularize qualquer situação irregular que esteja pendente. .

2) assista a cursos sobre Prosperidade, Abundância, Auto-Estima.
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3) leia tudo o que puder sobre o tema, incluindo biografias de quem se notabilizou por ter fundado impérios financeiros. .

4) disponibilize-se a aprender com os outros sobre o dinheiro, especialmente com homens que possam entrar na sua vida porque podem ter muito para lhe ensinar.
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5) recorde que os nossos mestres chegam anónimos, que as bençãos se disfarçam de infortúnio e as maldições de benção, e aceite quaisquer acontecimentos como oportunidades de “ajustar” a sua relação com o seu valor-próprio, a sua produtividade, e a sua independência financeira.
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6) recorde as atitudes que lhe foram transmitidas com relação ao dinheiro, ao trabalho, às dívidas e às contas, e disponibilize-se a perceber quais delas não servem, e quais podem ser reforçadas com vantagens para si.
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E o mais misterioso, para concluir e extrapolar a partir deste exemplo, é que se não seguirmos estas sugestões pode nunca vir a existir uma herança, se seguirmos auditoria nenhuma, ou nunca – mas em última análise NUNCA saberemos realmente o que teria acontecido se… se tivéssemos feito aquele workshop… se tivéssemos visto aquele programa ou lido aquele livro… nunca saberemos quanto poderíamos ter mudado o rumo dos acontecimentos “futuros” se não nos tivéssemos acomodado e optar por nada fazer. .

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O que nos leva à pergunta seguinte, a mais importante afinal, e que é: o que é o “futuro”, ou o “destino”? A resposta, ensina-nos a Astrologia, é que o “destino” é o que resulta da interacção entre as energias específicas que um homem transporta consigo, a forma como as usa, o nível de (auto)consciência a que vive, logo, a resposta que dá a cada novo momento de vida. .

Cada novo momento de vida é a semente do momento seguinte. Quem pode saber o que é o futuro, se não compreender como é vivido o presente? .

Isto, para não levantar outra(s) das questões importantes quando se pensa em previsões em Astrologia… que ficarão, provavelmente, para outro textinho de reflexão.

Nuno Michaels.

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Convidado Nuno Michaels

  

Nuno Michaels é conselheiro astrológico, Life-Coach e professor de Astrologia Psicológica no QUIRON - Centro Português de Astrologia. Orienta grupos em Lisboa, Porto e Faro e mantém, desde Janeiro de 2009, uma rubrica semanal sobre Astrologia, Espiritualidade e Desenvolvimento Pessoal no Rádio Clube Português.
Mais sobre o seu trabalho em www.nunomichaels.com

Coordenação de Conteúdos:
Heloisa Miranda,
email:sapozen@sapo.pt
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