A falta de desejo não é um problema exclusivamente feminino. Descubra o que está a roubar o interesse do seu companheiro e saiba como ajudá-lo a voltar a desejá-la. Os dados de um estudo internacional comprovam-no. Mais de 10% dos homens portugueses têm falta de interesse sexual. O mais surpreendente é que são os homens, entre os 30 e os 39 anos, os mais afetados. A culpa, dizem eles, é "do cansaço e do stresse profissional".

Estas foram as principais razões referidas pelos homens que participaram no estudo, conduzido pela investigadora Ana Alexandra Carvalheira, na condição de presidente da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica. Mas não são as únicas... Nalguns casos, como muitos também referiram, é porque andam ansiosos, deprimidos ou aborrecidos, sentem-se inseguros ou há conflitos na relação.

O veredicto da ciência

Na opinião dos homens que responderam ao inquérito, as principais razões para a diminuição do desejo sexual são o stresse e o cansaço. Contudo, durante a investigação, a falta de interesse sexual apareceu associada a outros fatores, como os baixos níveis de confiança na função erétil, os elevados níveis de ansiedade, depressão e aborrecimento sexual e as relações de longa duração, também apontadas por alguns.

O estudo concluiu também que as dificuldades sexuais que mais afetam os homens são a dificuldade em conseguir ou manter a ereção e a ejaculação rápida. A autora do estudo, Ana Alexandra Carvalheira, afirma que esta é a prova que, "o que influencia o desejo sexual masculino não é assim tão diferente do que influencia o desejo feminino". "Existem algumas diferenças mas o desejo masculino também não é uma equação simples", explica.

Desejo masculino versus feminino

O comportamento deles não deixa margem para dúvidas. Para Ana Alexandra Carvalheira, também sexóloga e terapeuta sexual, "o desejo masculino é mais constante, enquanto que o das mulheres flutua mais ao longo da vida e, por vezes, basta uma palavra mal dita ou um olhar mais agressivo para o seu desejo descer dos 100 para os 10, em apenas três segundos", revela a especialista.

Outra conclusão surpreendente do estudo é que a libido dos homens também sofre com problemas de comunicação e conflitos relacionais. Vânia Beliz, psicóloga, refere que "os homens também podem ter menos desejo perante uma relação que não vai de encontro às suas expetativas". "É importante que as mulheres reconheçam que, por vezes, se desleixam e que é fundamental fazerem um esforço para melhorar as suas falhas", alerta.

A perda do desejo aos 30 anos

Surpreendentemente, de acordo com os resultados do trabalho de análise realizado, a falta de interesse sexual é maior entre os 30 e os 39 anos. Esta foi outra das revelações do estudo já referido. A rotina das relações e a mudança do papel do casal são, segundo a sexóloga Vânia Beliz, os principais motivos. "A paternidade, por exemplo, influencia muito a relação do casal", adverte a especialista em sexologia.

"Apesar de um filho ser algo muito especial, a disponibilidade para a intimidade reduz-se e, muitas vezes, não estamos preparados para esta mudança", alerta a especialista. "O afastamento surge, de forma quase inevitável, potenciando a ausência do desejo que, por vezes, nunca mais volta a ser como antes. Muitas situações de infidelidade ocorrem após o nascimento do primeiro filho", acrescenta.

Eles também são inseguros

Por detrás da falta de confiança na função erétil, que muitos homens apontam, pode estar uma razão tão simples como a memória de uma experiência falhada que gera o medo de falhar novamente. A sexóloga Vânia Beliz explica que "perante uma falha, a ansiedade pode aumentar, bloqueando uma resposta sexual satisfatória". "A ansiedade é, aliás, mais do que suficiente para não acontecer", diz.

"A maioria dos homens não consegue relativizar a situação e concentra todas as preocupações na ausência de ereção o que, por si só, pode ser motivo para intensificar a dificuldade", acrescenta ainda a especialista. "Muitas vezes,percebemos que o homem não apresenta dificuldade (acorda com ereção peniana e consegue a ereção com a masturbação) mas quando está com a parceira não é capaz", alerta a sexóloga.

Nestes casos, muito mais comuns do que à partida muitos poderão julgar, a solução passa por aprender a relaxar e a controlar a ansiedade. "Muitas vezes, nem existe um problema mas, sim, uma dificuldade que pode ser apenas pontual", assegura ainda. Uma opinião que muitos especialista, nacionais e internacionais, também corroboram em muitas das teses que têm defendido publicamente.

As teias da ansiedade e depressão

A ansiedade não controlada pode bloquear o desempenho sexual ou dificultar o desejo. Mas, "num quadro depressivo, a perda do desejo é quase inevitável", constata Vânia Beliz. "Sentimo-nos tristes, sem energia e é, muitas vezes, a medicação que corta consideravelmente o desejo". Se estiver em tratamento, as consequências podem ser várias.

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"Podem manifestar-se sob a forma de perda do interesse e desejo sexual, dificuldade em conseguir ou manter a ereção e dificuldade em atingir o orgasmo", indica a especialista. A boa notícia é que também é possível contornar as adversidades que surgem durante um quadro depressivo.

Basta adotar as medidas certas e os comportamentos mais eficazes, como sugerem muitos especialistas! "É importante que o casal não se distancie e que abordem juntos as mudanças e dificuldades", refere Vânia Beliz.

"A nós mulheres, cabe-nos, o cuidado de não exercer nenhum tipo de pressão sobre eles e estar a par das alterações que acontecem perante uma patologia depressiva, de forma a compreender a causa das dificuldades sentidas", recomenda ainda a sexóloga portuguesa, autora do livro "Ponto quê? - Prazer no feminino", publicado pela editora Objectiva.

Ele é rápido demais?

A ansiedade pode ser também o fator responsável por uma ejaculação rápida, uma dificuldade sexual que também afeta o desejo dos homens, de acordo com os dados do estudo já citado. Vânia Beliz alerta que "esta é uma situação que carece de uma avaliação muito precisa", uma vez que o fator tempo é muito relativo.

"Por vezes, muita estimulação/excitação pode ser o suficiente para um orgasmo mais rápido", esclarece. Mas, se desconfiar que poderá estar perante uma disfunção, o melhor é seguir a recomendação da sexóloga e consultar um especialista. "Existem uma série de estratégias que o terapeuta sexual pode aconselhar para controlar a ejaculação", afirma ainda.

O problema das relações de longa data

Estar numa relação de longa duração é outro dos fatores que mais contribui para a perda de desejo masculino. Nas relações de longa data, "não há o fator novidade que torna tudo, aparentemente, mais excitante e, muitas vezes, julgamos que já tudo foi descoberto", alerta a especialista. O segredo para reacender a chama é, segundo a sexóloga, "manter o espírito de descoberta", sugere a sexóloga.

"Não parar de surpreender o outro e não transformar o sexo em algo aborrecido", acrescenta. Para os homens que participaram neste estudo, o aborrecimento sexual é um dos principais anuladores do desejo. "É importante perceber que numa relação não existem só dias felizes. Devemos fazer o que está ao nosso alcance para quebrar a rotina e nunca deixar de exprimir o que sentimos", refere ainda a especialista.

Dinheiro e sexo

A crise económica e financeira dos últimos anos também contribuiu para a crescente ausência de desejo e, principalmente, nos homens. Quem o diz é a sexóloga Vânia Beliz! "A crise é, atualmente, um dos principais fatores de ausência de desejo nos casais, uma vez que causa uma enorme instabilidade. O homem carrega ainda o estereótipo de pai de família e de elemento forte na economia do casal", refere.

"Perante uma situação de desemprego ou de instabilidade laboral, esse papel é enfraquecido e muitos homens sentem-se sem qualquer valor, incapazes de sustentar a sua família", justifica a sexóloga. "E esta situação de insatisfação é, muitas vezes, uma machadada na autoestima masculina, deixando-os inseguros e, até, gravemente deprimidos», explica ainda a especialista.

Texto: Sofia Santos Cardoso com Ana Alexandra Carvalheira (sexóloga e terapeuta sexual) e Vânia Beliz (psicóloga clínica mestre em sexologia)