Foi em 1990 que
Maria de Lurdes
Batista, com dois
filhos, viu o seu
casamento de 14
anos chegar ao
fim.

«Nunca pensei
que isto pudesse
acontecer, até ao dia
em que ele mudou
completamente», desabafa hoje.

«Ele deixou de
aparecer para jantar. Dormia fora de casa...», recorda agora esta mulher.

«Quando uma amiga
o viu com outra
mulher, eu estava
disposta a manter
o casamento, mas
ele preferiu sair de
casa e seis meses
depois estávamos
divorciados», revela. «Sofri muito. Perdi peso, passei a viver com mais
dificuldades e sentia-me muito sozinha, especialmente
ao domingo. Perguntava-me em que é que teria
falhado. Um ano depois, entrei na igreja e passei a ver
as coisas de outra maneira», admite.

«Deixei de sentir raiva, ódio,
de o amar e perdoei-o. Ele era apenas uma pessoa que
eu um dia conheci», sublinha. Seis anos depois voltou a casar
e teve um filho. «A minha forma de estar nesta relação
é diferente. Procuro falar logo sobre aquilo que parece
não estar bem e não deixar as coisas irem mais além», conta.

Segunda oportunidade

«Independentemente de existirem filhos
ou não, o casal deve investigar todas
as possibilidades de a relação resultar»,
defende Margarida Vieitez. No entanto,
se o amor acaba Quintino Aires é
perentório. «O amor não se força e sem
ele o casamento
não deve continuar.
Mantê-lo é viver uma mentira, que se
paga com muito sofrimento», explica o especialista.

O divórcio
vem introduzir uma série de mudanças,
«que se vão repercutir a nível emocional,
financeiro, familiar e social.
Sempre que o casal sente dificuldade em
gerir os seus conflitos, «deve pedir ajuda
especializada, nomeadamente a terapia
de casal», aconselha a terapeuta familiar.

Sorrir outra vez

É normal que no início não acredite ser
possível voltar a ser feliz. «Está demasiado
desiludida. É preciso reconstruir um
sentido para a sua vida. É isso que acontece
com as outras pessoas, e mesmo que
agora isso lhe pareça impossível, é o que
vai acontecer também consigo», afirma
Joaquim Quintino Aires.

Margarida Vieitez
aconselha uma solução que melhorará a sua autoestima. «Foque-se em si nos próximos
tempos. Mime-se. Resgate sonhos antigos.
Invista nas suas amizades. Substitua
os pensamentos sobre o passado por
pensamentos acerca do futuro», recomenda a especialista.

O que dizem os especialistas

Margarida Vieitez, mediadora familiar e de conflitos, não tem dúvidas.
«Parabéns a esta extraordinária mulher e a todas as mulheres
e homens que passaram por idênticas tempestades
amorosas, mas continuam a abrir o seu coração e a amar», sublinha. Na opinião de Joaquim Quintino Aires, psicólogo, «apesar do
sofrimento, natural, esta mulher permitiu-se arriscar de novo,
e o prémio é poder dizer que hoje é mais feliz».

Texto: Vanda Oliveira com Joaquim Quintino Aires (psicólogo) e Margarida Vieitez (mediadora familiar e de conflitos)