“Temos 14,5% das raparigas a não reconhecerem que forçar para beijar ou para ter relações sexuais constitui uma forma de violência [sexual], contraponto com mais do dobro dos rapazes (32,5%) que também não o reconhece como tal”, revelou à agência Lusa, a criminóloga Cátia Pontedeira, da UMAR, em antecipação à apresentação, a fazer hoje no Porto, de um estudo sobre violência no namoro.

O estudo sobre a prevalência e legitimação da violência no namoro, desenvolvido nos últimos quatro meses pela União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), inquiriu jovens do Grande Porto, Braga e Coimbra e conclui que os rapazes legitimam mais os comportamentos violentos do que as raparigas e que da totalidade dos 2.500 jovens, “16% considera normal forçar o/a companheiro/a a ter relações sexuais”.

No que diz respeito à legitimação da violência, ou seja à não-aceitação de determinado comportamento como violência no namoro, os dados revelam que quase um quarto dos jovens (22%) considera ”normal” a violência no namoro.

“É ainda uma percentagem mesmo muito alta haver 22% a considerar normal algumas das formas de violência”, considerou a criminóloga, referindo que nesta violência geral está incluída a “violência física, sexual e ou psicológica”.

A criminóloga adiantou que o estudo, realizado no âmbito do projeto Artways – Políticas Educativas e de Formação contra a Violência e Delinquência Juvenil e que contou com adolescentes entre 12 e 18 anos, indica que “7% dos jovens já tinham sofrido algum tipo de violência nas suas relações de namoro” e que a maior parte da violência descrita é psicológica.

A violência física no namoro foi assumida por 5% do total de jovens inquiridos e a violência sexual foi reportada por 4,5% dos jovens.

“Estes dados de prevalência de violência são preocupantes”, considerou a criminóloga da UMAR, lembrando que se está a falar de um grupo de jovens cuja idade média é de 14 anos.

A UMAR, que faz estudos sobre violência de namoro desde 2009, indica que com estes dados recentes se verifica que a “vitimização tem subido ligeiramente, o que não significa necessariamente que haja mais vítimas no namoro.

“Pode significar, por exemplo, que há um maior reconhecimento deste fenómeno e, portanto, uma maior denúncia, uma maior procura de ajuda e também maiores dados estatísticos em termos da sua prevalência.

Para a UMAR, este aumento de violência no namoro é importante, no sentido de que os jovens estão cada vez mais a ficar informados do que é a violência no namoro, que é crime, e que, portanto, é importante os jovens saberem que podem procurar ajuda especializada.

“Os dados deste estudo levam-nos a afirmar e defender que há ainda uma grande necessidade de trabalhar estes temas com os jovens”, alertou Cátia Pontedeira, lembrando que a UMAR está a desenvolver um trabalho de “prevenção primária na violência de género e que está a decorrer nas escolas há mais de 12 anos.

Por violência física entenda-se violência que deixa marcas visíveis físicas e atos que não deixem vestígios, como por “empurrar ou puxar”.

Na violência sexual está implícito a violação, mas também pressões verbais como dizer “se não fazes sexo, não gostas de mim ou estás a perder o interesse em mim”. Já na violência psicológica a maior incidência são as proibições de estar ou falar com amigos ou mexer no telemóvel.

Em fevereiro de 2013 o Código Penal passou a considerar crime de violência doméstica as agressões entre namorados e também entre ex-namorados.

Namoro é um relacionamento amoroso entre duas pessoas em que a aproximação física e psíquica, fundada numa atração recíproca, aspira à continuidade, deixando de fora meros namoros passageiros, ocasionais, fortuitos, flirts, lê-se no Dicionário Houaiss da Língua portuguesa.