Todos, de uma forma ou de outra, necessitam de se sentir amados por alguém. Amar no sentido do reconhecimento da intencionalidade e, portanto, da existência individual de quem se ama.  Mais do que o simples amor abnegado, o amor deverá ir ao encontro do outro, das suas necessidades próprias, ou seja, do que precisa de receber.

Nos primeiros anos de vida, o amor dos pais traduz-se pela sua sensibilidade, disponibilidade e cuidados, quer funcionais, quer afectivos. Mediante a presença desta base segura, a criança encontra um espaço que lhe permite a exploração motivada e espontânea do meio circundante. O que primeiro é uma posição dependente da presença do adulto protetor, gradualmente se altera para a adopção de uma atitude onde experimenta brincar sozinha e mais afastada. Um exemplo demonstrativo é o da criança pequena que, ao passear com os pais pela rua os acompanha de mão dada, depois logo à sua frente, em seguida dá umas corridas e para para olhar para trás e confirmar a sua presença, até ao dia em que corre sem parar. Mahler designou este processo de separação/individuação, pelo crescente rompimento da simbiose precoce e gradual aquisição de um self autónomo. Sem a ligação simbiótica inicial, fica a insegurança de que os vínculos estabelecidos não perdurem de forma consistente e inquebrável, pelo que na fase de reaproximação reativam-se angústias de perda de amor e desenvolvem-se esforços de confirmação. A criança infantiliza-se, recupera atitudes de bebé já perdidas, torna-se solícita de toque, aconchego, compreensão e aceitação.

Em suma, a fase da reaproximação confirma ou infirma a possibilidade de dois seres independentes e autónomos se poderem amar de modo seguro e incorruptível. Amarem-se, portanto, independentemente de serem diferentes nas percepções, pensamentos, sentimentos, interesses e atitudes. Amados por quem são, ao contrário do que sintam que tenham que ser para agradar ao outro e reconquistar a afectividade de outrora.

Existe, no entanto, a ideia de que o crescimento seja proporcionalmente inverso às necessidades afectivas. Quanto mais velhos, de menos mimos precisam. As manifestações carinhosas reprimem-se perante o medo de que os afectos expressos fisicamente inibam a criança de crescer de forma adulta e responsável, a par com a vergonha edipiana e contenção social, e assim desaparecem da experiência relacional os abraços, as festas e os beijos.

O mundo deixa aos poucos de ser vivencial para se centrar na cabeça, no que se pensa, no que se aprende, no que se compreende e, por isso, no que se infere. Abandona-se progressivamente o óbvio para se viver na imaginação e especulação do que os outros sentem por nós, na medida em que não seja frequente a demonstração agida e por isso direta e inequívoca do que representamos para eles. Surgem as dúvidas, os medos e as angústias. Seremos ou não importantes? Como se sentiriam se nos perdessem? Até que ponto abdicariam das suas necessidades em prol das nossas?

Há quem esteja fixado na dicotomia de ter e depois perder. Tive amor e já não tenho? Corro o risco de dar amor e não haver reciprocidade? Amar-me-ão se for espontâneo, ou terei que pensar o que digo e faço para ter a certeza que sou amado? Os sentimentos ambivalentes não permitem discorrer se é necessária uma submissão ao outro para que se possa ser amado por ele, sendo a afirmação pessoal tida como uma rebelião e o castigo a solidão, ou se o amor dessa pessoa ultrapassa as suas motivações egossintónicas e lhe permite percepcionar-nos para além de um prolongamento narcísico de si própria.

Na verdade, tendo esta situação ocorrido na família, será com facilidade revivida nas restantes relações. Surgirá a dúvida perante os amigos nos dias em que não telefonam, ou companheiros, agora mais tranquilos e não só carregados de desejo e paixão. Inicia-se a procura de provas de amor. E o mais curioso é que, de amoroso, nada têm.

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