Nas últimas quatro décadas, o paradigma mudou. O número de casamentos em portugal caiu a um ritmo nunca visto, atingindo em média uma quebra que ronda os 50%. Ao mesmo tempo, os divórcios dispararam e, nos últimos anos, atingiram mesmo o seu pico máximo. Os dados apurados pelo Instituto Nacional de Estatística e posteriormente divulgados pela comunicação social refletem uma mudança social com um forte impacto na duração de uma relação amorosa.

"Atualmente, a mulher detém uma independência económica que não tinha há trinta anos atrás e que lhe permite optar pela separação", justifica Sónia Vladimira Correia, socióloga da família. Mas, de acordo com esta investigadora portuguesa, este não é o único fator responsável pelo aumento considerável de divórcios nas últimas décadas. A forma como se passou a olhar o casamento também mudou consideravelmente e tem o seu peso neste novo paradigma social.

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"A passagem de uma ideia de casamento arranjado e combinado entre famílias, sem qualquer proximidade emocional, para um contexto de casamento amoroso faz com que cada um dos membros do casal procure ser feliz", refere a especialista Sónia Vladimira Correia. A felicidade assumiu, nos últimos anos, um papel central na vida a dois. Em relação a isso, não há dúvidas. O maior desafio que os novos casais enfrentam nos conturbados, agitados e exigentes dias que correm é (re)conquistá-la. Falámos com três especialistas em psicologia do amor e em terapia familiar e com três casais em plena sintonia para lhe revelar a chave de uma relação feliz e duradoura. Aprenda a agarrá-la!

Numa relação, existem duas fases, a paixão e o amor. Segundo os especialistas, são claramente distintas. "A paixão caracteriza-se por uma atração física mas também por um pensamento obsessivo que, dura, em média dois anos", refere Nuno Amado, psicólogo e investigador na área da psicologia do amor. "Quando as pessoas estão apaixonadas, não conseguem parar de pensar no outro, querem saber tudo sobre o outro e, aos olhos delas, o outro é perfeito", exemplifica.

"Essas são características que, pela sua própria definição, não se podem manter por muito tempo mas que, ainda assim, são essenciais no início de uma relação", revela o especialista, explicando que "esta obsessão pelo outro faz com que as pessoas acreditem na relação e que assumam o compromisso", sublinha o psicólogo e investigador luso. Quando se está verdadeiramente apaixonado, não há como o negar. A idealização do outro é mesmo inevitável.

"Existe uma determinada zona do nosso cérebro, onde está sediada a capacidade crítica, que fica inibida", revela o terapeuta familiar Manuel Peixoto. Depois deste amor apaixonado, o mais arrebatador dos amores, que faz sentir borboletas na barriga, vem o amor companheiro, que é baseado na realidade e já não na idealização típica da paixão. A realidade impõe-se e surge, mais uma vez, de forma inevitável. É preciso saber enfrentá-la para não deitar tudo a perder.

A fase das crises inevitáveis

Os projetos utópicos que se fazem durante a primeira fase da relação dão lugar à necessidade de tomar decisões reais e à constatação de que o outro, que inicialmente era perfeito, afinal também tem defeitos. A verdadeira batalha começa aqui. Depois de um período intenso de paixão, as incompatibilidades revelam-se e surgem os conflitos entre o casal. Mas, segundo os especialistas, é perfeitamente natural e até desejável, por estranho que pareça, que assim seja.

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"Pensar que uma relação só tem benefícios é uma visão utópica e irrealista", refere o psicólogo Nuno Amado. "O casal é a estrutura mais instável das relações humanas. O conceito de estabilidade opõe-se à vida e, quando uma relação se torna estável, cristaliza e não evolui", afirma o terapeuta familiar Manuel Peixoto. Todos os casais têm as suas crises, mesmo os mais felizes. O segredo é saber encará-las de forma a que se tornem em algo produtivo para a relação. "O problema não está em discutir ou não discutir mas, sim, na forma como se discute. Acima de tudo, os momentos maus podem ser uma fase de reajustamento da relação e uma oportunidade de crescimento", defende Nuno Amado.

"Se havia algum problema na relação que levou a uma crise, pode ser resolvido com uma discussão", explica o psicólogo. "O problema é que, por vezes, os casais reagem mais ao estado emocional do que aquilo que está a ser discutido", constata, no entanto, Nuno Amado, sublinhando que "uma discussão que é ganha por um dos membros do casal é uma discussão perdida pelos dois". "A ideia é perceber que o objetivo é melhorar a relação", defende ainda.

O que fazer para (re)acender a chama

O tema tem sido alvo de (muita) análise. Um estudo científico internacional, mencionado pelo psicólogo Nuno Amado no livro "Diz-me a verdade sobre o amor", publicado pela editora Academia do Livro, revelou que a paixão pode perdurar durante muitos anos. Obviamente, que essa investigação não se refere à obsessão que se vive numa primeira fase do namoro mas, sim, ao encantamento ou à chama que alguns casais conseguem manter ao longo da vida.

O estudo levado a cabo por um grupo de especialistas internacionais testou mulheres e homens que afirmavam estar intensamente apaixonados há mais de vinte anos e, através de exames cerebrais, os investigadores tiraram as suas ilações. Concluíram que, nestes casais, estavam ativadas as mesmas áreas cerebrais que nos casais apaixonados de fresco. Era a prova de que precisávamos para afirmar que, para alguns, a paixão também pode ser eterna como o amor.

Para outros, continua a ser difícil ou mesmo impossível manter a chama acesa. Mas, com as estratégias certas, a situação pode mudar. "Os casais não podem esquecer a razão pela qual um dia se apaixonaram um pelo outro", sublinha. "É frequente ficarem demasiado envolvidos nas questões do dia a dia e esquecerem que o outro é aquela pessoa por quem, um dia, estiveram absolutamente encantados e isso não pode acontecer", alerta mesmo o psicólogo Nuno Amado.

Manter a surpresa e um certo espírito de descoberta pelo outro é, segundo os especialistas, o segredo da paixão duradoura. "Cada casal tem o seu contexto e não há uma fórmula que se aplique a todos. A ideia é haver uma preocupação em surpreender o outro, elogiá-lo, agradecer o bem que ele nos faz e nunca deixar o outro pensar que já não encontramos encanto nele. Se ainda amamos o outro e se o outro ainda nos encanta, há que transmiti-lo", recomenda ainda.

A importância de saber comunicar

Pensar que o problema de um casal é a falta de comunicação não corresponde à verdade. "Um casal comunica sempre. O problema é que alguns casais fazem-no mal, têm uma comunicação que os afasta", constata o terapeuta familiar Manuel Peixoto. "É também muito importante que as pessoas saibam expressar aquilo que precisam porque o outro até pode estar disposto a dar ou, até quer dar, mas não sabe como", alerta o psicólogo Nuno Amado.

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"Expressar as necessidades de cada um é fundamental para não cair no risco de ficar insatisfeito(a) numa relação", sublinha ainda. Uma comunicação aberta e franca é uma peça central em qualquer relação bem sucedida. Os especialistas confirmam-no. Mas há ainda outra componente fundamental na comunicação em casal que, muitas vezes, é esquecida ou desvalorizada. Quem o diz é Rafael Santandreu, reputado psicólogo espanhol que acompanha vários casos de casais em vias de separação. O especialista alerta para a necessidade de mudar o tipo de discurso que usamos quando queremos modificar algo que não está bem na relação. "Em vez de exigir, sugira", recomenda mesmo Rafael Santandreu no seu livro "A arte de não amargar a vida".

"Ao exigir, o outro membro do casal vai sentir-se mal com isso, vai pensar que também pode exigir o mesmo de si e não tem vontade de mudar", constata. "Por outro lado, seguir ordens não tem mérito e, por isso, não se converte numa mudança permanente", explica o psicólogo. Naquela que é uma das suas obras mais (re)conhecidas, publicada em Portugal pela editora Pergaminho, Rafael Santandreu dá um bom exemplo daquilo que é uma sugestão de amor.

Em vez de dizer frases como "Não quero que compres coisas caras sem me consultar", o autor sugere que diga algo como "Gostava que não comprasses coisas caras sem me consultar antes, mas se não conseguires evitar fazê-lo, sobreviveremos a isso e continuarei a amar-te muito". O especialista revela que na sua prática clínica constatou que a eficácia do método da sugestão amorosa é de 80%. Com a exigência, a mudança só ocorre, em média, em 20% dos casos.

O problema da(s) rotina(s)

Com o tempo, a rotina instala-se na vida do casal e há que saber contorná-la. Porquê? O psicólogo Nuno Amado responde com uma única frase. "Um dos segredos dos casais felizes é que a rotina é encarada como algo positivo", sublinha. E o truque certo para o conseguir está, segundo o especialista, em sobreviver à rotina diária mas também em saber apreciar cada dia. "Um casal tem que ter momentos no seu dia a dia pelos quais ansiar", alerta o psicólogo clínico.

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Para isso, o casal não deve nunca deixar de ter momentos a dois. "É indiferente se é um jantar romântico ou um passeio, até pode ser pintar paredes. O importante é que haja a sensação que um está lá para o outro e que o mundo lá fora ficou, pelo menos uns momentos, suspenso", refere. A generosidade é outro ingrediente imprescindível no dia a dia de uma relação feliz. Um estudo realizado pelo Institute for American Values, que entrevistou cerca de 3.000 casais entre os 18 e os 46 anos, revelou que os casais que relatavam uma quantidade elevada de generosidade nas suas relações eram cinco vezes mais propensos a dizer que o seu casamento era feliz do que os que relatavam menos.

"Para ser generoso, é preciso estar atento às necessidades de afeto que se revelam de forma diferente nos homens e nas mulheres", alerta o terapeuta familiar Manuel Peixoto. "Enquanto a mulher tem a necessidade de se sentir protegida, o homem procura um cuidado maternal que pode ser correspondido com a disponibilidade incondicional da companheira para ouvir os seus problemas", revela ainda. E, para completar a receita da felicidade perfeita, falta a gratidão.

"É fundamental dizer obrigado, até nas tarefas mais simples", alerta o psicólogo Nuno Amado. "Mesmo que seja da responsabilidade do outro fazer determinada tarefa, devemos agradecer-lhe", defende. "É preciso valorizar o que ganhamos com o outro, aquilo que o outro nos deu e continua a dar", acrescenta ainda. No meio da correria e do stresse dos tempos atuais, nem sempre há espaço para isso. Um erro que é necessário corrigir. Antes que seja demasiado tarde!

Texto: Sofia Santos Cardoso com Manuel Peixoto (terapeuta familiar), Nuno Amado (psicólogo clínico e investigador), Rafael Santandreu (psicólogo clínico) e Sónia Vladimira Correia (socióloga da família e life coach)