Afinal estávamos enganados. Os opostos não se atraem! Um estudo, realizado pela University of Iowa, nos EUA, revelou que as pessoas que escolhem parceiros semelhantes a si próprias têm mais hipóteses de viver um casamento duradouro. Quando questionados, a maioria dos casais felizes eram aqueles que tinham mais pontos em comum com o parceiro. Mas, se é verdade que partilhar gostos ajuda a superar os desafios de uma relação, estes não são os únicos fatores envolvidos.

Pela mão de dois especialistas em psicologia, Lídia Weber e João Lima, e em parceria com Margarida Vieitez, mediadora familiar, descubra as armadilhas que pode encontrar ao longo deste percurso e saiba como ultrapassá-las. Para que a sua história possa terminar com o tão desejado «... E viveram felizes para sempre». Não é o que quer?

As épocas do amor

Cada casal tem um ritmo próprio, único. Por isso, como sublinha Lídia Weber, «não há regras perfeitas que sirvam para todos os casos. O ser humano em constante mudança e o casal também». Apesar de tudo, existem alguns momentos que se podem considerar mais críticos, marcos de etapas que é preciso ultrapassar para uma relação duradoura. Mais do que fases cronológicas, o casamento divide-se em ciclos.

E embora nem todos sejam iguais, como explica João Lima. «É frequente ocorrer um período de encantamento, habituação, saturação e reconciliação ao longo de um casamento», refere o especialista. «O facto de serem positivos ou negativos depende da forma como cada casal entende o seu papel na relação e encara a vida», acrescenta ainda.

O namoro

Os filmes e romances baseiam-se todos no mesmo. A paixão! Aquele bater do coração, a perda de apetite e os pensamentos dominados pela pessoa amada. É um sentimento bom e intenso mas, infelizmente não dura para sempre. «Imagine o que seria passar vinte anos em estado de paixão louca, com o coração a disparar cada vez que o telefone toca?» questiona Lídia Weber. «Esta é a primeira fase», diz.

«Depois, ao contrário do que se pensa, não é porque não sente essa química que a pessoa ama menos. Com o passar dos anos, o amor não diminui, solidifica-se. Há uma mudança de paixão para amor», esclarece. Durante o namoro, é feita a idealização do companheiro. As qualidades saltam à vista e até os defeitos têm a sua piada. As expectativas são boas e tornam-se mais fortes com a aproximação do grande dia, atingindo o ponto máximo durante o noivado, com os preparativos para a festa.

Romance versus realidade

Terminada a festa, a lua de mel e arrumados os presentes, começa a vida a sério. O dia a dia e a tão temida rotina entram na vida do casal sem aviso. Está lançado o primeiro desafio. Esta é a fase de adaptação, em que começam a conhecer-se melhor e percebem que as expetativas diferem da realidade. Uma fase que, por vezes, acaba por trazer algumas descobertas, por vezes inesperadas.

Nos dois primeiros anos de casamento, o risco de separação e infidelidade é maior. São muitas as estatísticas e os estudos internacionais que o comprovam. Como explica Lídia Weber, «muitos casais têm uma ideia romântica da relação e desconhecem a diminuição natural da paixão. Por isso, não entendem esta transição e acham que cometeram um erro ao casar».

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Estratégias para um casamento em pleno

O choque com a realidade é inevitável mas pode ser atenuado. Basta focar no lado positivo. Em vez de considerar o que nos irrita no outro, devemos procurar as razões que nos levaram a amá-lo. E, acima de tudo, aceitá-lo tal como é.

Corrida de obstáculos

A par com a rotina, surgem outras armadilhas, como a família ou o stresse. A aceitação e integração na família é muito importante, mas deve ser equilibrada. É essencial preservar o seu espaço e decisões. Tudo isto para evitar situações dignas de anedota, em que um familiar interfere na vida do casal. O stress é uma das principais causas de conflito. Após um dia de trabalho, o primeiro reflexo é despejar o saco ao chegar a casa.

Segundo Margarida Vieitez, «canalizar as frustrações gera discussões que nada têm a ver com a relação. É a altura do dia em que se está mais cansado, aborrecido. Por vezes, é melhor conversar mais tarde e evitar os ressentimentos que possam surgir». Outra solução, aponta João Lima, «é rever cada encontro, como de namoro. Torná-lo um momento de recarga emocional após um dia de desgaste».

Um mais um é igual a... três!

Os filhos. São o motor do desafio mais importante na vida de um casal. O amor e a confiança mantém-se mas a vida, essa, dá uma volta de 180º. E tudo começa na gravidez. «A partir desse momento há uma transformação na intimidade do casal. A mulher centra-se mais nela própria, é colocada no centro das atenções pela família», explica Margarida Vieitez. «Muitas vezes o homem não sabe qual é o seu papel na história». Após o nascimento, esta sensação acentua-se.

A mãe dedica-se à criança e o pai sente falta do tempo a dois mas não o reclama, sob pena de ser considerado egoísta. Participação é a palavra-chave. Há que incluir o pai nos rituais de cuidados do filho e, sobretudo, não esquecer que antes de três, eram apenas dois e esses dois continuam lá. A precisar de carinho também.

O poder da palavra

Na mesa de restaurante, um homem e uma mulher jantam, pagam a conta e saem. Um ao lado do outro, sem trocar uma palavra. Este é um mero exemplo que ilustra um casamento em perigo: não há diálogo. «Uma das dificuldades do casal é a comunicação», alerta Margarida Vieitez, «comunicam tanto durante o namoro, mas depois pensam que o outro lê o pensamento e deixam de falar».

O silêncio instala-se e, com ele, a incompreensão. Por melhor que se conheça o outro, o casamento não dá poderes de vidente. É preciso continuar a expressar os desejos, gostos, interesses. Na opinião de João Lima, «há que estar atento às alterações que cada um vai sentindo e discuti-las com o parceiro. O silêncio sobre o que se pensa e o que se sente leva ao isolamento e a situações imprevisíveis».

Namorar é preciso

Ir ao cinema, jantar à luz de velas ou reservar um momento para os dois são os primeiros passos para a felicidade. Com tantas responsabilidades familiares e profissionais, a vida afetiva passa frequentemente para segundo plano. E isso é um erro!

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O que precisa de investir para manter a relação

Para manter uma relação é preciso investir, manter o interesse pelo outro e proteger o espaço criado a dois. Uma tarefa que muitas vezes acaba por escapar aos membros do casal. Um casamento não é algo estável. Tal como nós, ele muda. Por isso, é essencial equacioná-lo a cada dia, fazer os ajustes necessários para que acompanhe a evolução do casal. Como alerta João Lima, «deixar de namorar durante o casamento pode ser fatal».

«É preciso reinventar o namoro, não ter medo de mostrar que ainda de ama, como se fazia antes do casamento», aconselha o especialista. «É importante reinventar a sedução, porque o outro não é uma conquista segura só por existir um papel assinado», recomenda ainda.

Enfim... sós!

Após anos de dedicação, eis que chega o momento da partida. Já crescidos os filhos dão os primeiros passos rumo à independência. E para os pais surge um novo desafio, a vida a dois novamente. Muitas vezes é só nesta altura que o casal se apercebe do vazio que existe entre eles. Como salienta Margarida Vieitez, «é um momento de reflexão que pode levar ao encontro ou ao desencontro».

«É uma fase complicada. Por vezes, eles não se conseguem encontrar e vêem que cresceram em direções opostas», refere. Nestes casos, é preciso investir numa aproximação. Voltar a fazer aquelas coisas que foram abdicando ao longo da vida por causa dos filhos. Regressar ao namoro e, sobretudo, manter uma atitude positiva, para aproveitar esta nova vida, tirando partido da experiência adquirida.

Felizes para sempre?

Renovação ou fim da relação, são os finais possíveis para um casamento. Em alguns casos, a separação parece ser a única saída, quando um dos dois sente que já não consegue fazer mais nada pela relação. É uma decisão difícil, que pode levar anos. «Muitas vezes não tomam a decisão antes por causa dos filhos. Mas eles não vão agradecer, pois, regra geral, são as principais vítimas de um ambiente de conflito», esclarece Margarida Vieitez.

Para evitar que a sua história termine assim, o segredo é encarar a felicidade como algo que se constrói. Não é o outro que nos vai fazer felizes, nós é que temos de partilhar a felicidade e procurar um caminho comum. Nas palavras de João Lima, o segredo está em «namorar até ao fim da vida, olhando cada dia como especial para estar com quem se gosta.» Simples, não é?

Texto: Manuela Vasconcelos