A culpa não foi exclusivamente deles, mas o certo é que os contos de fadas não vieram ajudar nada, ao descreverem as madrastas como arrogantes e más. Esta ideia ficou marcada no nosso inconsciente colectivo e é transmitida de geração em geração.

Cinderela foi transformada em escrava pela mulher do pai, Branca de Neve escapou à morte mas teve que viver no bosque e o rei do conto «os seis cisnes», optou por encerrar os filhos num castelo, com receio que a madrasta os maltratasse.

No tempo em que estas histórias foram escritas, as madrastas ocupavam o lugar das mães por morte destas, não devido a divórcio. Com o passar dos anos, assistimos a uma radical mudança na estrutura das famílias e muitos são os casos em que existem, os meus filhos, os teus filhos e os nossos filhos.

Mas como se processam as relações entre todas estas pessoas? É possível encontrar um patamar de entendimento, que favoreça a harmonia? Pensamos que sim, desde que exista vontade e alguma paciência por parte dos padrastos e madrastas.

É uma verdade absoluta, que o caminho tem que ser percorrido no sentido adulto-criança, sendo que cabe ao adulto a difícil tarefa de ir vencendo obstáculos, contornando dificuldades e somando pontos.

 

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… De namorada a madrasta …
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De namorada a madrasta

Decerto já falou com amigas sobre o assunto e se algumas fizeram relatos terríveis de conflitos sem fim, outras caíram no pólo oposto e deixaram-se levar pelo «mito do amor instantâneo» isto é, acreditam ser possível que todos se passem a adorar instantaneamente.

Não há nada como viver a experiência, para saber como é. Uma coisa é certa - à semelhança de qualquer relação - existe todo um percurso que leva à solidificação dos laços entre as pessoas.

A madrasta que começa a ter contacto com os enteados, deve colocar-se sempre num papel de retaguarda, sem cair na tentação de assumir imediatamente um papel activo face a eles.

Se assim for, o que tem a esperar é uma forte rejeição, porque será encarada como um estranho que saiu do nada e agora se quer intrometer. Esta situação é tanto ou mais complicada, se ainda tiver passado pouco tempo após a separação.

É necessário algum amadurecimento da situação, para que esta seja encarada com naturalidade. Pode até acontecer que o seu enteado esteja a passar por uma fase em que é invadido por sentimentos de raiva (ver caixa) e, caso interprete as suas intervenções como uma intromissão, decida transformá-la num alvo preferencial.

A raiva surgirá sob a forma de mau humor ou clara atitude de desafio. Sentir raiva é normal, mas com o tempo, a criança deve ser ensinada a expressar os seus sentimentos de outro modo, através do diálogo franco e aberto.

À medida que o tempo passa, a aceitação vai sendo progressiva e tornar-se-á possível que a madrasta interfira de um modo mais directo. Ainda assim, é preciso munir-se de todo o bom senso e medir bem as palavras que vai dizer, sobretudo quando se tratam de adolescentes. Arrisca-se sempre a ouvir o clássico «você não é minha mãe, portanto não tem nada a ver com isso», ou um mais agressivo «meta-se na sua vida! ».

 

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… Seja AMIGA, não madrasta …
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Amiga e não madrasta

Em regra, a relação torna-se mais complexa com as raparigas, já que estas parecem ter relações de lealdade mais estreitas com as mães e não aceitam de bom grado a inclusão de outra pessoa.

Sentem que, de algum modo, há outra mulher que veio ocupar o lugar da sua mãe e isso é uma autêntica invasão. No entanto, a par com a rebeldia, as adolescentes têm um grande sentido de justiça e uma necessidade enorme de serem amadas e compreendidas.

Facilmente conseguirá conquistar uma adolescente, se optar pelo papel de amiga e não pelo de substituta materna. Ela já tem uma mãe e um pai, portanto não necessita de mais ninguém a representar estes papéis

Em hipótese alguma opte por uma atitude autoritária, pois terá uma inimiga para a vida inteira. Seja uma amiga mais velha, uma companheira para aquelas coisas “proibidas”, como sair à noite ou maquilhar-se.

Brinque com ela, elogie-a, vão às compras juntas, se possível sem o pai. A princípio ela poderá ser um pouco reservada, mas vai ver que facilmente conquista uma admiradora e ela passará a contar-lhe as suas angústias e os desastres de amor.

Não ceda à tentação de perguntar coisas sobre o passado, ou acerca da mãe. Isso só contribuiria para um retrocesso em tudo aquilo que já tivesse alcançado. O passado só pode ser discutido, ou falado abertamente, quando os laços de amizades estiverem suficientemente sólidos, o que pode demorar algum tempo.

Evite também contar ao seu companheiro as coisas que a sua enteada lhe confidenciou. As adolescentes funcionam muito com base nos segredos e reagem violentamente ao saberem que algo foi divulgado. O assunto ficará entre as duas e assim se poderão evitar fortes conflitos.

 

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… Não se meta nas brigas entre eles …
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Não se meta nas brigas entre eles!

Pode também acontecer que você tenha também filhos de outra relação. Este aspecto, vem trazer outras questões que é necessário resolver, já que não é só o ciúme de pais para filhos, mas também a rivalidade entre as crianças.

É possível que surjam alguns problemas entre eles, desentendimentos e até brigas mas, à semelhança do que se deve passar no caso dos filhos biológicos, é fundamental que se mantenha sempre à margem dos problemas entre as crianças.

Eles brigam, gritam, mas de imediato se colocam em acordo e, após um período de conhecimento mútuo, acabarão por tornar-se bons amigos. Se, pelo contrário, perceberem que assim conseguem chamar as atenções dos pais, irão optar por perpetuar esta estratégia e você não terá mais sossego.

Quanto aos programas, há que ser bastante democrático. Um dia será reservado à praia, porque a Maria gosta de nadar, o outro poderá ser um pouco mais radical, à medida dos gostos do Manuel.

O tempo é pouco e não pode ser desperdiçado em guerras inúteis, nem em férias monótonas. As brincadeiras na praia, os churrascos ao fim do dia e, também, as conversas que se estabelecem a propósito e a despropósito, constituem modos preciosos de estreitar relações.

 

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… Seja o elemento apaziguador …
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Elemento apaziguador

Um facto inegável, é que certamente as crianças sentirão saudades da mãe e desejarão telefonar-lhe. Evite que o seu companheiro se oponha a isso. O divórcio foi uma opção tomada pelos adultos, mas não deve ser alargada às crianças.

Neste ponto, você pode ter um importante papel como elemento apaziguador, quando se trata de divórcios em que existe conflito. Alguém que está de fora mantém sempre uma visão mais clara e também mais fria da situação, tornando-se possível ouvir e aconselhar o companheiro, no sentido de evitar cair na tentação de fazer das crianças vitimas de todo o processo.

É que, quando se tratam de divórcios litigiosos, infelizmente, os pais iniciam um «fogo cruzado» que atinge os filhos. Neste mar de retaliações, remetem as crianças para um plano secundário, onde interessa apenas cumprir à risca os horários estipulados pelo tribunal e não as reais necessidades que a criança tem, para que consiga ter possibilidades de crescer e tornar-se um ser humano emocionalmente equilibrado.

É sabido que, consoante a idade, assim variam as necessidades das crianças. Num período pré-escolar, por exemplo, é vulgar que chorem ao serem deixadas no Infantário. Muitas vezes um brinquedo favorito ou de uma peça de roupa trazida de casa, torna-se fundamental e evita o surgimento de doses massiças de angústia, já que simbolicamente representam a casa ou mesmo a mãe.

Pouco a pouco, a segurança vai crescendo, a par com a certeza de que não vai ficar ali, abandonada à sua sorte, no final do dia. Esta questão é importante, quando se fala na questão do divórcio dos pais e da ausência no geral.

Uma criança só estará apta para se separar da mãe durante longos períodos de tempo, se já tiver desenvolvido a capacidade de a sentir segura, apesar de não estar fisicamente presente. Os pais devem estar muito conscientes deste facto e levá-lo em conta quando se fala nas férias.

 

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… A angústia da ausência …
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A angústia da ausência

Os dois primeiros anos de vida são apontados como os mais complicados, já que existe uma completa dependência da figura da mãe. Durante este período, não parece ser aconselhável que as férias com o pai sejam muito viáveis, já que a criança não aguentará muito tempo a ausência da mãe, sendo que tal não invalida as visitas e os cuidados dispensados.

Aliás, é importante que a relação pai-bebé se vá construindo desde muito cedo, por forma a haver uma preparação para as férias. Uma criança que, ao longo do ano, pouco ou nenhum contacto teve com o pai, não irá reagir bem se, de repente, se vir sozinha com ele durante 15 dias seguidos!

Alguns autores referem que, até aos cinco anos, o período máximo de separação da mãe deverá ser uma semana e só a partir dos 10 anos é que poderá ser de quinze dias. Tenha estes dados bem presentes, porque o bem-estar psicológico deve sobrepor-se a qualquer tipo de acordo judicial!

Nos primeiros anos de vida, opte por curtos períodos de férias, indo progressivamente alargando o tempo, à medida que a criança vai sendo mais crescida. Além disso, os destinos de férias, também deverão ser discutidos em conjunto, caso existam adolescentes, porque de outro modo arrisca-se a que os seus dias se transformem num pesadelo.

Faça uma lista de opções possíveis e discuta-as com o seu companheiro, os seus filhos e os filhos dele. Entrem num acordo, ou numa solução de compromisso e partam à aventura, tentando conhecer-se o melhor possível, para que seja viável virem a tornar-se uma família.

 

 


Texto da autoria de Drª Teresa Paula Marques
Psicóloga Clínica, especialista em Psicologia Infantil e do Adolescente

Consultórios:

Clínica da Criança
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