E se lhe disséssemos que a relação perfeita deixa que os
parceiros cresçam, ou seja, potencia o desenvolvimento das características
individuais, enriquece as competências e que para isso só tem de tomar
como seus os interesses e recursos do seu parceiro? Esta é a teoria do modelo
self-expansion (auto-expansão) desenvolvido pelos psicólogos Arthur
Aron e Elain Aron.

Para percebermos melhor como é que as pessoas pensam,
se sentem e agem nas relações próximas, estivemos à conversa com a
psicóloga Jennifer M. Tomlinson que integra a equipa dedicada ao estudo
deste modelo.

Em que consiste o modelo
de auto-expansão?

Este modelo baseia-se em duas ideias
fundamentais. A primeira é que as
pessoas têm um desejo natural de
expandir as suas capacidades e objectivos
e a segunda é que a única forma de o
fazer é através de relações próximas com
outras pessoas. Neste tipo de relações,
as pessoas experimentam os recursos,
as perspectivas e as identidades dos seus
parceiros como fazendo parte do seu
próprio conceito.

Esta ideia é válida quer para
as relações amorosas quer para
as de amizade?

Absolutamente. As relações com amigos
e parceiros românticos são uma excelente
fonte de auto-expansão. Podemos
beneficiar de ambas de diferentes
maneiras e enriquecer-nos com elas.

Como é que explica o facto
de nos apaixonarmos por alguém?

Apaixonar-se é o principal exemplo de
como pode ocorrer a auto-expansão. Nos estágios iniciais de uma
relação, as pessoas experimentam um
autodesenvolvimento rápido.
Ao conhecermos um novo parceiro,
o nosso autoconceito prospera. Por
exemplo, uma pessoa que inicia uma
relação com um especialista em padaria
aprende a apreciar a subtileza dessa arte.

O resultado disso é que ambas se
desenvolvem e tornam-se pessoas mais
completas. Em 1995, Arthur Aron
seguiu vários casais recém-apaixonados
e concluiu que essas pessoas cresceram e
melhoraram depois de se apaixonarem.

Essa evolução processa-se sempre
da mesma maneira?

Existem diversas maneiras de uma pessoa
crescer e evoluir. Há quem se desenvolva
participando em actividades novas e
desafiantes e há quem o faça conhecendo
outras pessoas. Mas melhor ainda, é
participar em actividades estimulantes
com outra pessoa.

Este modelo resulta melhor
com parceiros cuja personalidade
é semelhante?

Idealmente, as pessoas desenvolvem-se mais com parceiros diferentes.
No entanto, várias pesquisas sobre atracção mostram-nos que as pessoas
se sentem naturalmente atraídas por
pessoas semelhantes. Um outro estudo
mostrou ainda que os opostos se atraem
quando um deles pensa que a outra
pessoa está interessada em ter uma
relação.

Pessoas que são diferentes (têm
interesses diferentes ou pertencem a
etnias diferentes) oferecem uma grande
oportunidade de auto-expansão, o que
significa que se a pessoa passar a barreira
inicial da construção do relacionamento
com uma pessoa muito diferente essa
relação pode ser muito compensadora.

Veja na página seguinte: De que forma é que participar em
actividades novas melhora a relação

De que forma é que participar em
actividades novas melhora a relação?

Participar em actividades novas é algo
entusiástico e excitante, logo se uma
pessoa fizer essa actividade com o seu
parceiro é provável que o entusiasmo
se transfira para a própria relação.


Participar numa nova actividade é uma
experiência positiva e esse positivismo
ficará associado ao parceiro. Assim, por
associação, o parceiro torna-se uma fonte
de expansão e participar na tal actividade
ajuda ao autodesenvolvimento e, ao
mesmo tempo, aumenta a satisfação na
relação.

Nesse caso, podemos dizer que
se dá uma fusão entre os parceiros?

Quando uma pessoa se desenvolve a
partir de uma relação, acaba por incluir
o outro na sua personalidade. Como o
parceiro, de certo modo, se torna parte
do autoconceito do outro, suponho que
possamos chamar-lhe fusão. De facto,
as pessoas estão mais motivadas para
agregar informação delas próprias e dos
parceiros.

Que conselhos dá a um casal cuja
relação começa a entrar numa fase
rotineira?

Saiam e tentem fazer alguma coisa nova
juntos. Qualquer tipo de actividade nova
e excitante pode ajudar a revigorar uma
relação. Fazer coisas novas tem muitos
efeitos positivos na satisfação do casal.

Pode dar-nos exemplos de
actividades que um casal deve fazer
em conjunto?

Os casais podem fazer qualquer actividade
que seja nova e desafiante para eles. Ir a
um novo restaurante, visitar uma cidade que ainda não conheçam, arranjar um
novo hobby, fazer caiaque, escalar uma
montanha, ter aulas juntos, ir ao cinema,
entre muitas outras. Depende sempre
daquilo que o casal considera ser uma
actividade excitante e desafiante.

Existem casos em que já não há nada
a fazer?

Para melhorar um relacionamento,
o casal tem de estar disposto a lutar
pela relação. Podem fazer isto experimentando
as tais actividades novas e
desafiantes ou actuando nos problemas
que têm e incrementando as capacidades
de comunicação. No entanto, se os dois
membros do casal não estão dispostos
a mudar, dificilmente se melhorará
uma relação.

Porque é que alguns casais, vários
anos após o início da relação,
se mostram tão apaixonados
como no primeiro dia?

Bianca Acevedo, uma aluna de pós-doutoramento da University of California
Santa Barbara, durante uma investigação,
provou que casais com relacionamentos com mais de dez anos mostraram a
mesma actividade cerebral que as pessoas
que acabaram de se apaixonar. Isto
sugere que é possível manter a paixão ao
longo do tempo. Diversos investigadores
da área das relações, espalhados pelo
mundo, estão a trabalhar para identificar
os factores que fazem com que algumas
relações floresçam e outras falhem.

Porque é que o amor acaba?

Já foram vários os investigadores que
estudaram as causas da dissolução dos
relacionamentos. Por exemplo, John
Gottman identificou quatros factores
de sofrimento de um casal, nomeadamente criticismo,
desprezo, falta de apoio e abstinência. O
stress provocado pela pobreza, doenças
ou eventos negativos podem também ser
prejudiciais para a relação.

Além disso,
a falta de comunicação pode ter efeitos
negativos nas relações. Por esta razão, os
terapeutas matrimoniais ajudam muitas
vezes o casal a trabalhar as capacidades
comunicativas.

Veja na página seguinte: O amor é uma coisa cerebral?

O amor é uma coisa cerebral?

Investigadores que usaram um scanner cerebral
(FMRI – Functional Magnetic
Resonance Imagery) descobriram que
estar apaixonado activa as áreas cerebrais
associadas à motivação e à recompensa.
Portanto, o amor é algo cerebral.

Como é que a aparência física afecta
o amor?

Estudos sobre a atracção revelaram que
as pessoas se sentem mais atraídas por
outras com características desejáveis, e a
aparência física é uma delas.

Na verdade,
as pessoas tendem a começar relações
com parceiros que têm os mesmos níveis
de atracção física.

Quais são os benefícios de ter uma
relação?

Uma relação traz inúmeros benefícios
para o autoconceito e para a saúde.
Como pude comprovar no nosso
laboratório, os relacionamentos
ajudam-nos a tornar pessoas
melhores através da expansão
do nosso autoconceito.

Além disso,
podem proporcionar importantes
fontes de suporte social em momentos
stressantes e excitantes das nossas vidas.
A auto-expansão está associada
positivamente às relações satisfatórias, à
alegria da vida, à felicidade subjectiva e
ao crescimento pessoal, e negativamente
ao stress, à solidão e às emoções
negativas.

O percurso de Jennifer Tomlison

Professora e investigadora do
departamento de Psicologia da Carnegie
Mellon University, em Pittsburg
(Estados Unidos), Jennifer Tomlinson
é especialista em psicologia social das
relações próximas e emoção. Os seus
estudos incidem sobretudo na percepção
do parceiro e no apoio do parceiro para
a auto-expansão do outro. Actualmente
está a investigar os efeitos da idealização
e a sua acção nos relacionamentos.

Liderou o Laboratório de Arthur Aron
na Stony Brook University em 2008
e tem publicado inúmeros estudos
conjuntos. Actualmente está a preparar
um capítulo do livro Positive Psychology
of Love (Hojjat & D. Cramer) e que
tem como tema o amor romântico.

Texto: Rita Caetano com Jennifer Tomlinson (investigadora)