Monogamia, filhos, compromisso, prazer, sexo, romance, independência, família, amigos...

Durante dez anos, Janet Reibstein, psicóloga clínica e investigadora na área familiar e conjugal, conversou com duzentos casais heterossexuais e homossexuais, com e sem filhos, em busca de respostas que avaliassem o peso destas variáveis num casamento feliz. E encontrou-as!


O resultado desta vasta investigação, bem mais longa do que alguns casamentos modernos, está reunido no seu livro, «The Best Kept Secret: Men and Women Stories of Lasting Love». Uma obra em que esta especialista norte-americana, há vários anos radicada no Reino Unido, consegue reunir os segredos das relações de sucesso, transponíveis e perfeitamente exequíveis nas nossas próprias relações, como vai perceber depois de ler a conversa que tivemos com esta professora da Universidade de Exeter.

Ao fim de uma década de investigação, consegue sintetizar os principais segredos dos casais felizes?

É difícil mas posso dizer que um dos grandes segredos dos casais que analisei reside no facto de, por um lado, terem a perfeita noção de que, ao longo das suas vidas, deparar-se-ão com dificuldades e, por outro, estarem interessados em perceber como as poderão ultrapassar. Isso não significa, contudo, que não vivenciem a frustração e que não criem ressentimentos, mas são realistas e não concebem o parceiro como uma personagem com poderes sobrenaturais para os fazer felizes.

Sentem que têm a mesma obrigação em fazer o parceiro feliz, sabem que existirão conflitos e quando estes acontecem arranjam mecanismos para os resolver, embora isso possa não acontecer imediatamente. Quando o conflito surge afastam-se, criam espaço para respirar, reflectem sobre a forma como poderão ter magoado o outro e tentam reparar essa situação.

Constatou também que são casais em que a educação, a cortesia, é um valor-chave...

Sim, embora possam bater com a porta, demonstrar alguma agressividade. No entanto, também estabelecem limites e quando estes são ultrapassados fazem um esforço para compensar essa transgressão.

É verdade que os casais felizes tendem a desenvolver actividades em conjunto?

Sim, ainda que isso não signifique que passem todos os minutos juntos. Especialmente no caso dos casais em que ambos os elementos trabalham e têm filhos é muito difícil encontrarem tempo para estarem a sós, mas quando começam a perder contacto reconhecem essa situação e fazem um esforço para se voltarem a conectar.

As crianças são inevitavelmente um ponto de fricção?

Os filhos tanto podem aproximar os elementos de um casal como afastá-los. Com a sua chegada, o casal tem de redireccionar tempo e energia, podendo inclusivamente acontecer que a ligação com os filhos substitua a relação conjugal.

Até pode parecer que passam mais tempo juntos quando, na verdade, não se estão a dar um ao outro mas a relacionar-se através dos filhos. Isso pode ser um autêntico beijo da morte para a relação. Tornam-se a mãe e o pai, perdendo a ligação original de homem e mulher.

Houve algum aspecto que a surpreendeu especialmente no seu estudo?

A delicadeza com que estas pessoas se continuam a tratar. Não quer dizer que não discutam, que não gritem, mas a verdade é que têm presente que o outro se sente magoado por determinadas atitudes sabem que têm o poder de magoar o parceiro, voltam atrás e são cuidadosas em relação ao companheiro. O facto de nunca se esquecerem que aquela é a pessoa por quem se apaixonaram demarca-os de outros casais.


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O que explica que falhem tantos casamentos?

Muitos casais esquecem-se que o outro é tão vulnerável agora como o era na altura em que se conheceram e se apaixonaram.

As pessoas esquecem-se que o parceiro precisa de continuar a sentir-se apreciado.


Perde-se a noção do poder que se tem sobre o outro, existindo apenas uma preocupação em relação à forma como o outro nos fere. A partir daí dá-se azo ao ressentimento e desvanece-se a noção de se estar ligado à outra pessoa.

Defende que o amor pode ser melhor e mais intenso à medida que o tempo passa. O romance consegue mesmo resistir a um casamento de vinte anos?

Sim, embora seja um tipo de romance diferente. Esse clima tem de ser criado. Não se trata de romance no sentido de se estar inebriado pela outra pessoa, de se ter ilusões em relação ao outro.

Acredito que ao fim de tantos anos pode existir uma ligação intensa entre duas pessoas que é baseada em algo muito profundo, em que se conhece verdadeiramente o outro. Os casais que analisei têm a capacidade de continuar a brincar, fazem fins de semanas românticos, regressam a locais que foram muito importantes para eles.

Que sugestões dá a quem deseja melhorar o seu casamento?

Antes de mais, é preciso perceber que estar à espera que seja o parceiro a mudar não leva a lado nenhum. Tem de ser a própria pessoa a mudar. Depois é preciso que ambos estejam atentos ao tempo e energia que despendem um com o outro, em comparação com aquele que investem nos filhos, no trabalho, em outras pessoas…

Estar alerta, portanto...

Exactamente e depois é preciso estar disponível para fazer ajustes na agenda, de forma a conceder atenção especial ao parceiro, reflectir sobre os prazeres que ambos partilham e arranjar tempo para eles.

E o sexo?

A linguagem corporal também é essencial. Muitas vezes o sexo pode tornar-se mecânico. Podemos passar a encará-lo como mais uma tarefa. Ainda que devamos contar com este tipo de situações, não devemos nunca deixar de tocar no outro.


Se perdermos o contacto físico, se não desenvolvermos a sensação de prazer inevitavelmente iremos diluir a nossa vida sexual. É possível contrariar a diminuição de desejo ou uma vida sexual menos activa se não deixamos de estabelecer contacto físico com o parceiro e de nos empenhar em relação a ele, em termos de tempo e energia.

Texto: Nazaré Tocha com Janet Reibstein (psicóloga clínica e investigadora)