Os tempos mudaram e a ideia de casamento também. Saber identificar os previsíveis altos e baixo da vida conjugal pode ajudar a fortalecer a relação e, até, a evitar o seu fim.

Se há muito deixou de ser aceitável passar a vida inteira com a mesma pessoa quando já não somos felizes, como acontecia no tempo dos nossos avós, também não devemos romper à primeira adversidade conjugal.

As estatísticas revelam que Portugal é o país europeu onde o número de divórcios mais cresceu. Passou de 1,1 por cento em 1960 para 73,7 em 2012. Será que não estamos a ser demasiado intolerantes e radicais? Com a ajuda de uma terapeuta do casal, descubra os momentos de crise que fazem parte do processo natural da vida conjugal e como evitar que a relação chegue ao fim.

1ª etapa: O nascimento do casal

A paixão dos tempos de namoro abrandou, mas tem a certeza que encontrou a sua cara-metade, com quem quer estabelecer uma relação séria e duradoura. Seguem-se tempos de descoberta. Segundo Catarina Mexia, psicóloga, o casal passa primeiro pelo processo de «criação do nós, necessário à afirmação de uma relação, uma das maiores tarefas com que se depara».

Nesta fase, «o principal desafio é conseguir fazer a separação das famílias de origem sem perder a sua identidade, optando claramente pela nova família. Ser capaz de se despojar dos seus velhos hábitos de ser independente e aprender a partilhar o seu eu com o outro, dando e recebendo num processo de constante negociação», explica.

A crise dos sete anos não é um mito. Geralmente, após os primeiros sete anos, a relação começa a dar os primeiros sinais de instabilidade. «A fase inicial de fusão dá início à primeira crise, em que predomina a ambivalência, a dúvida referente à escolha do parceiro, à abertura de maior espaço para outros investimentos, nomeadamente profissionais», refere Catarina Mexia.

2ª etapa: O nascimento do primeiro filho

A chegada do primeiro filho vem pôr novamente à prova a força dos laços que se estabeleceram. «As famílias de origem tendem novamente a forçar a permeabilidade das fronteiras do casal, que precisa de resistir à necessidade de cumprir lealdades com a família de origem e perceber que os desafios do novo filho são para ser vencidos dentro da nova família, que o papel dos avós não é o de serem pais substitutos», refere.

«Portanto, devem salvaguardar o tempo de casal. Sendo pais têm, ao mesmo tempo, de inventar tempo para serem apenas casal», aconselha a especialista. A crise dos 10/15 anos é aquela com que pode ter de lidar durante esta altura. «Numa segunda etapa, há o retorno ao eu e tu, o que acontece cerca dos 10 a 15 anos de relação. Prevalecem os interesses pessoais, com algum afastamento relacional em que a dinâmica do nós e a força da sua ligação anteriormente estabelecida é posta à prova», descreve a especialista.

3ª etapa: A fase do reencontro

Após uma vida dedicada aos filhos, eles atingem a maioridade e começam a sair de casa. Ao contrário do que estava habituado, o casal passa novamente muito tempo um com o outro. Para que o reencontro seja possível, a psicóloga aconselha a «procurar cultivar interesses comuns, ter a consciência que somos seres que se actualizam permanentemente e, como tal, somos diferentes todos os dias».

Sugere, ainda, que se «mantenha rotinas saudáveis de partilha, como passear ao fim de semana, apenas para desfrutar da presença do outro, ou ir ao cinema, comentar um livro que se leu». Na opinião da especialista, «estes rituais podem ajudar a evitar que, de um momento para o outro, acordemos ao lado de um estranho com quem passámos uma vida».

A crise do ninho vazio é a que tendencialmente marca esta altura. A psicologia chama «fase do ninho vazio» ao sentimento de mal-estar que se gera com a saída de casa do último filho. «Faz com que o casal se encontre novamente frente a frente e, muitas vezes, se dê conta que o factor de agregação eram os filhos. Há que lidar com o possível reconhecimento de falta de interesses comuns. O grande desafio é criá-los de novo», refere.

O amor eterno é possível?

As fases do amor, luxúria, atração e ligação, identificadas pela investigadora Helen Fisher podem, segundo Catarina Mexia, prolongar-se por uma vida. «Ouço com frequência a história de casais cujos relacionamentos já são longos, que houve momentos em que um dos elementos se sentiu novamente atraído e apaixonado pelo marido/ mulher, como no início, e que isso fortaleceu a relação», afirma a especialista.

«Ou outros que formaram uma relação com diferentes graus de envolvimento, em que apenas um estava apaixonado, mas acabaram por se enamorar e envolver fortemente. A amizade e a cumplicidade são dois elementos que fazem com que um casal se mantenha para além das zangas e dos desamores. Quando estes dois pilares se desfazem, deixa de ser possível recuperar o amor», constata ainda.

Texto: Fátima Lopes Cardoso com Catarina Mexia (psicóloga especializada em terapia do casal)