Conheço casos de casais que ambos foram criados em ambientes disfuncionais associados ao alcoolismo nos seus pais. Os efeitos do alcoolismo na família e na sociedade é o equivalente a um “incêndio”.

Um “incêndio” que permanece activo durante varias gerações em algumas famílias. Todos os membros destas famílias, sem excepção, sofrem “queimaduras” e possuem as suas cicatrizes.

Histórias de pessoas, incluindo crianças, que procuram adaptar-se ao trauma prolongado ao longo dos anos e viver uma vida “normal”. Quase todos nós conhecemos alguém que, directa ou indirectamente, apresenta comportamentos problemáticos relacionados com o abuso ou dependência de álcool (alcoolismo).

Contudo, raramente sabemos, seja por ignorância e/ou falta de informação, quais as consequências na família, incluindo as crianças, do abuso e/ou  do alcoolismo. Por vezes, ainda escuto afirmações “Aquele tipo, é alcoólico por causa da mulher. Bolas, se fosse comigo, também eu recorria à bebida para não suportar o inferno em casa” .

Ou “ O Jorge bebe muito porque a mãe é super controladora.” Historicamente, a família ainda é referenciada como a causa de alguns problemas associados ao abuso ou ao alcoolismo ou um obstáculo para a solução, infelizmente.

Muitas esposas e mães foram e/ou ainda são as “culpadas” pelo alcoolismo dos seus maridos e filhos. Afirmava-se que o domínio maternal seria um factor que contribuiria para o problema do alcoolismo.

Hoje sabemos que é errado. O sistema familiar (relações entre todos os seus membros) é afectado negativamente e todos procuram adaptar-se às consequências associadas ao alcoolismo.

Alguns ex. - papéis na família (hierarquia familiar); regras de funcionamento dentro do sistema e rituais (aniversários, eventos sociais). Imiscuindo-se nos subsistemas, ex. – tema relacionado com a intimidade entre os adultos na família (confiança entre pai/mãe); a relação entre o pai/mãe e as crianças e finalmente o relacionamento entre irmãos.

Perante uma exposição prolongada ao trauma, estas famílias adoptam “a regra do silêncio” – não se fala, não se confia e não se sente (reprimir sentimentos quer sejam intensos ou o oposto). A família gira em ciclos de alterações drásticas do humor.

A este padrão apelido de “síndrome” de repetição das oscilações emocionais intensas e/ou reprimir (abafar) e a dissocialidade (resposta característica do trauma). São os dois lados da mesma moeda. Adoptam-se os mecanismos de negação.

Esta “regra do silêncio” implica a aplicação de restrições e estratégicas que visavam “proteger” o alcoolismo na família e impedir a discussão aberta e honesta sobre a disfunção familiar – Eis um ex. “Olha lá, Raquel, és uma de nós e aceitas estas regras como todos fazemos na família, e gostamos de ti ou serás tratada como a ovelha negra da família e não serás bem-vinda”.

Em muitos casos, estas restrições e estratégias não são comunicadas abertamente, mas instituídas através de linguagem não verbal.

Estas regras não permitem o desenvolvimento de relações íntimas, honestas e espontâneas. Negação é o mecanismo que permite a adaptação ao trauma (efeito amortecedor).

Redescobrir a vida para além da negação e da culpa – Recuperação

Quando me refiro ao termo recuperação (mudança de estilo de vida), aplica-se a todos os membros da família, incluindo as crianças. Torna-se imperativo identificar as dinâmicas e a “regra do silêncio”.

Procura-se enfrentar e lidar construtivamente com o sistema desequilibrado e disfuncional dos sentimentos intensos ou reprimidos ( a negação, a culpa e vergonha, a rejeição e a inadequação, o isolamento, medo e o ressentimento, a ansiedade e a depressão).

Alcoolismo resiste ao longo das gerações

João Rodrigues
Técnico de aconselhamento de comportamentos aditivos.
Formação em Inglaterra (Farm Place e Broadway Lodge)
e nos EUA (Hazelden Foundation).
Consultas directas: Tmv 91 488 5546

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Recuperar das Dependências

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