Existem cada vez mais mulheres que aceitam ser a outra. Fomos perceber porquê e recolher a análise de uma especialista sobre a mais recente tendência no mundo das atrações, o facto delas se sentirem-se muito mais atraídas por homens comprometidos. Nos últimos vinte anos a idade média para o casamento, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística, passou de 23 para 29,5 anos. Numa altura em que o casamento é adiado para cada vez mais tarde, por imaturidade ou pelo foco excessivo na carreira, os homens que já foram capazes de assumir esse passo tornaram-se um alvo especial dos olhares femininos. 

«Muitas mulheres ficam seduzidas por verificarem a capacidade de comprometimento destes homens com um projeto que requer construção e para o qual eles já prestaram provas», constata Sofia Nunes da Silva, terapeuta familiar, autora do livro Psicóloga de Família, publicado por A Esfera dos Livros. Estudos internacionais apontam, mesmo, para o aparecimento de uma nova tendência, «o fenómeno do anel de casamento».

Este fenómeno retrata o poder de atração destes homens comprometidos. O estatuto pessoal, social e profissional, normalmente implícito num homem casado, parece ser a explicação que está por detrás deste fenómeno, mas não é a única. Uma especialista ajuda-nos a descodificar as motivações dos homens e mulheres que protagonizam esta atração tabu e os riscos inerentes às relações extraconjugais.

Anel de casamento: Símbolo de indisponibilidade ou de atração?

À partida, um anel de casamento no dedo deveria significar indisponibilidade para qualquer tipo de envolvimento, mas parece que o instinto feminino age em sentido contrário. Aos olhos de algumas mulheres, um homem comprometido é mais atraente do que um solteiro e a razão desta atração pode ser pura e simplesmente biológica. De acordo com Helen Fisher, uma renomada e reconhecida antropóloga biológica norte-americana, quando vemos um homem que é bem-sucedido num relacionamento, há uma parte do nosso cérebro que é ativada.

É essa ativação que nos leva a vê-lo como um bom protetor, uma das qualidades que as mulheres mais admiram e procuram num relacionamento estável. Um estudo recente da Okhlama State University, nos Estados Unidos da América, prova bem esta teoria. Durante a investigação, os investigadores mostraram uma fotografia do homem ideal das mulheres entrevistadas e quando estas eram informadas que ele era comprometido, o desejo de sair com ele aumentava.

De acordo com a investigação, cerca de 90 por cento das mulheres mostrou interesse em sair com o homem que era apresentado, quando pensavam que ele era um homem comprometido, face a apenas 59 por cento, quando os investigadores informavam que ele era solteiro. Uma diferença percentual que não deixa de ser, no mínimo, surpreendente.

Um escape à rotina?

Para quem procura apenas uma aventura sexual, sem envolvimento afetivo, um homem casado pode ser a conquista ideal. A terapeuta Sofia Nunes da Silva confirma que «há mulheres que mantêm este tipo de relação por ser esta a forma como querem viver». «Estar com alguém já comprometido, com uma menor exigência e disponibilidade para a relação, mantendo a chama do romance sempre acesa e evitando a realidade da partilha do dia a dia», sublinha ainda a especialista.

Por outro lado, como apontam alguns autores internacionais, o envolvimento com um homem comprometido pode ser altamente excitante pela ideia de proibido que acarreta. Ana, de 43 anos, estava a viver uma fase em que se sentia muito solitária, depois de ter terminado uma relação amorosa intensa de dois anos. E foi precisamente nesse momento que conheceu um homem casado com quem se envolveu.

«Ele encantou-me pelos momentos que me proporcionou, desde os jantares cheios de glamour ao fim de semana que passámos juntos, e acabei por me envolver porque estava carente e sentia-me muito sozinha», desabafa. «Mas sempre estive convicta de que esta relação não passaria de uma aventura e, ao fim de um mês, afastei-me», revela ainda.

O perigo da ilusão

Se para algumas mulheres, como Ana, o envolvimento com um homem já comprometido não passa de uma aventura, para outras não. E há quem mantenha este tipo de relacionamento, durante anos, com a expetativa de que um dia mudará. Uma expetativa que, na maioria dos casos, acaba frustrada. Estudos internacionais têm mostrado que cerca de 90 por cento dos homens que têm casos extraconjugais não se casam com as suas amantes e que, dos restantes 10 por cento que o fazem, 70 por cento acabam por separar-se.

«Muitos homens, contrariamente à maioria das mulheres, conseguem envolver-se física e sexualmente com uma segunda mulher, sem que isso implique o desejo de com ela ter uma relação ou terminar o seu casamento. Já a mulher tem uma visão mais romântica do amor e das relações e o envolvimento sexual para ela pressupõe muitas vezes um envolvimento afetivo», explica a terapeuta Sofia Nunes da Silva, revelando que «no fundo, as mulheres têm sempre a esperança de se tornarem a mulher exclusiva e oficial, vivendo sobretudo a sua vida mais na ilusão do que na realidade».

Estar apaixonada por um homem casado

Sara, de 40 anos, apaixonou-se por um homem casado, sem saber. «Quando o conheci não se falou sobre isso e, mais tarde, quando fiz a pergunta, a resposta que ouvi estava longe de ser a esperada, foi um murro no estômago», recorda, reconhecendo que no momento em que soube que o homem que desejava era comprometido, já estava demasiado envolvida. «Não estaria neste relacionamento se não estivesse convicta de que este é o homem», afirma, convicta.

«Temos uma forma de pensar idêntica, é a pessoa com quem acho mais fácil de falar, tem uma capacidade de ouvir única e uma sabedoria que me transmite a calma de que eu preciso. Os nossos valores éticos e sentido de humor coincidem», sublinha ainda. Sara mantém esta relação em secretismo há vários anos mas a sua expectativa é a de que, um dia, a relação se torne oficial. «Não poder assumir a nossa relação com a liberdade que ela merece é o pior», afirma.

Outro contra deste tipo de relacionamento prende-se com «o facto de ser uma situação ilícita e que vai contra os princípios de ambos», refere ainda. «Em toda a minha vida de casada nunca traí e, em toda a sua vida de casado, ele também nunca tinha tido um caso extraconjugal. Conhecemo-nos na única noite em que ele não fez o trajeto casa/trabalho», reconhece.

Os prós e os contras de ser a outra

O risco de viver a vida pela metade é incontornável. Sara confessa que, apesar de reconhecer algumas vantagens neste tipo de relacionamento, onde não existe o peso da rotina e há uma disponibilidade total em cada encontro, são mais as desvantagens. A terapeuta Sofia Nunes da Silva aponta como principais contras o sentimento de culpabilidadee o sacrifício que o ter de viver em segredo exige.

«A culpabilidade está muitas vezes presente e é tão mais intensa quanto este estilo de relação seja prolongado ou mantido com um forte envolvimento emocional. Por outro lado, viver com e em segredo é profundamente duro e exigente do ponto de vista físico e emocional», explica, alertando ainda que «este tipo de relacionamento pode dar origem a sentimentos de insegurança, baixa autoestima e autodesvalorização que resultam em feridas profundas, difíceis de curar e ultrapassar.

No caso de Sara, «sentir que encontrou a pessoa que a complementa», tranquiliza-a. No entanto, reconhece que «há momentos em que é impossível não sentir-se, de facto, a outra». A terapeuta deixa um conselho para prevenir a desilusão e o sofrimento. «Como em qualquer outro tipo de relacionamento, é importante que as regras e as expetativas sejam definidas desde o início do relacionamento», recomenda.

3 regras para evitar uma traição

Os conselhos da especialista Sofia Nunes da Silva para eles e… para elas!

1. Reflitam sobre o perigo da acomodação e sobre a sensação ilusória de que o outro será sempre seu, independentemente do que faça ou invista.

2. Sejam criativos e coloquem a relação no topo da lista das vossas prioridades. É fundamental que cada um se mantenha atento às fases em que um se pode sentir mais vulnerável na relação de casal.

3. Aprenda a distinguir o que quer, do que não quer e resista à tentação de olhar para outra pessoa como solução para fases difíceis e inevitáveis da relação. Não é possível estarmos sempre felizes e apaixonados

Texto: Sofia Cardoso com Sofia Nunes da Silva (terapeuta de casal e autora do livro «Psicóloga de Família» publicado pela editora A Esfera dos Livros)